A poesia de Murilo Mendes representa um desafio para a crítica porque, entre tantas razões, percorreu o caminho oposto ao de outros grandes poetas brasileiros: foi melhorando ao longo do tempo, especificamente, a partir de Poesia Liberdade, de 1947, quando seus contemporâneos, como Carlos Drummond de Andrade, já haviam praticamente escrito seus livros mais significativos….
Categoria: Prosa Crítica
MEU NOVO NOME: GREGOR SAMSA
Decidi mudar meu nome desde os atentados de novembro em Mumbai. Estava, há muito, enjoado de meu nome artístico: Régis Bonvicino. Os brasileiros não conseguem pronunciar corretamente Bonvicino. E o sobrenome italiano custou-me discriminações ao longo da vida. Cogitei Régis Antonio Rodrigues Bonvicino — extenso demais — e Régis Rodrigues, curto, com uma aliteração, mas inexpressivo,…
MARIO QUINTANA: O POEMA FAZ-SE
Descobri Mario Quintana através de Paulo Roberto Falcão – o melhor meio-campista que vi jogar, seja com a camisa da seleção brasileira, com a do Internacional de Porto Alegre ou com a da Roma. Falcão somava o Clodoaldo e o Gerson da Copa do Mundo de 1970, numa perspectiva mais contemporânea, renovada. Soube, pelos jornais, que…
MAIAKÓVSKI NA AMÉRICA
A União Soviética se extinguiu em dezembro de 1991 e a Geórgia, onde Vladímir Maiakóvski nasceu em 1893, tornou-se independente dela, um pouco antes, em abril daquele ano. O socialismo real desapareceu, inclusive, dos países autodenominados comunistas, como a China. Mikhail Gorbatchov, último presidente soviético (1985-91), mentor da glasnost (abertura) e da perestroika (reestruturação) – que a levou, na…
LEÓN FERRARI VERSUS GREGOR SAMSA
Conheci León Ferrari por intermédio de Regina Silveira e Júlio Plaza, no Centro de Estudos Aster, criado e dirigido por eles, por Walter Zanini e um outro Ferrari, o Donato. Em 1975, Júlio havia feito a capa e o projeto gráfico de uma revista que editei, de número único, intitulada Poesia em Greve, e, pouco depois,…
KAIKO: UM POUCO DE LEMINSKI
Convergem neste “May Sky /There Is Always Tomorrow” (Céu de Maio /Há Sempre Um Amanhã, 287 págs., Sun & Moon Press), antologia de haicais, escritos no estilo Kaiko por nipo-americanos durante a Segunda Grande Guerra, compilados e traduzidos do japonês para o inglês pela poeta Violet Kazue e Cristoforo, um conjunto de questões que ultrapassa…
JULGAMENTO DE CEAUSESCU LEMBRA OBRA DE IONESCO
O julgamento sumário do tirano Nicolau Ceausescu e de sua mulher Elena é um desses momentos plenos e, por isso mesmo, raros da história do homem no planeta Terra. Nele convergem a violação bárbara da ordem jurídica e dos princípios essenciais do processo enquanto garantia de direitos individuais e conquista civilizatória, a citação recorrente de…
JOAN BROSSA: UM DIÁLOGO COM JOÃO CABRAL
Ronald Polito, um dos mais promissores talentos da nova geração de poetas brasileiros, e Sérgio Alcides oferecem à língua portuguesa a primeira coletânea de Joan Brossa – poeta e artista plástico catalão, nascido em 1919 e morto em 1998, que, em 1949, se tornou amigo de João Cabral de Melo Neto, então cônsul do Brasil…
INVENTÁRIO DE CICATRIZES, DE ALEX POLARI DE ALVERGA
Fato importante aconteceu, não só no circuito poético, com o lançamento de Inventário de cicatrizes, coletânea de poemas de Alex Polari de Alverga, que, como se sabe, foi preso em maio de 1971, aos vinte anos, devido a sua militância guerrilheira contra o regime militar brasileiro e, por isso, condenado pelos tribunais a oitenta anos de…
IDENTIDADES EM CONFLITO: 12 POETAS CATALÃES
12 poetas catalães é mais uma das boas iniciativas do inquieto Ronald Polito, poeta cosmopolita (fato raro na ilha Brasil), ainda imerecidamente pouco reconhecido, que morou um tanto de anos no Japão e traduziu de alguns idiomas, embora sobretudo do catalão, como neste livro, que divide com Domènech Ponsatí, este responsável pela seleção e apresentação dos…