1 – Fale de você: onde nasceu? Qual formação? Onde vive? O que faz?
Régis Bonvicino: Eu nasci em São Paulo na Maternidade Pro Matre. Meus pais residiam na Aclimação, Sobrados, numa rua sem saída, geminados em fileiras, com chorões, morávamos em um deles. Depois, ainda na infância, nós fomos para o Itaim Bibi, que era um bairro então sem prédios, com muitos terrenos baldios, chácaras e alguns córregos. Eu vivo desde 1972 até hoje entre a Santa Cecília e o Higienópolis, que eram bairros bem menos verticais do que são agora. No Itaim Bibi, por exemplo, jogava futebol nas ruas e no campo do Marítimo (várzea). Mas eu gosto de morar por aqui no chamado Centro velho, no entanto, gostava dessa cidade bastante mais livre. Eu me formei em Direito/USP. E sou um autodidata em literatura. Aos nove anos, assisti à Marcha da Família, que saiu da Rua Barão de Itapetininga, acho, e passou pela Praça da República. Meu pai trabalhava no Largo do Arouche e o movimento nos atraiu (não sabíamos o que se passava exatamente). Meu pai havia me levado ao escritório dele. Então, vi a ditadura se implantar e acabar 21 anos depois.
2 – Quais são os seus escritores preferidos? Por quê?
Régis Bonvicino: Eu não tenho escritores preferidos. No período de formação, li muita prosa, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e pouca poesia. Comecei a ler mais poesia depois. Mas se eu tivesse que escolher “preferidos” diria preferidos de um período Fernando Pessoa, Mário de Sá- Carneiro, Cesário Verde, Drummond, João Cabral, Murilo Mendes, Manuel Bandeira, Wallace Stevens. Todos do meu período de formação. A Poesia concreta era interessante, como um conjunto de ideias, nos anos 1970, quando iniciei. Eu gostava dos poemas concretos de Décio Pignatari. Gostava da poesia de Décio como um todo. Gostava de Haroldo, de quem fui amigo. Ele é padrinho do meu segundo casamento. Gosto muito de Oliverio Girondo, de Borges. Me enchi do Brasil já nos anos 1980 e comecei a ler muita poesia em inglês. Eu nunca fui aficionado de mpb. Então, todas as bandas de rock sobretudo dos anos 1960 e também dos anos 1970 foram importantes para mim. Stones, The Doors, The Jimi Hendrix Experience e outras e outros. Nada é igual à poesia francesa do século 19.
3 – Como é o seu cotidiano?
Régis Bonvicino: Atormentado por recordações cortantes, como a morte de minha filha em 2018.
4 – Quantos livros publicou? – Quais foram as suas alegrias literárias?
Régis Bonvicino: Publiquei uns 50 livros, entre livros e plaquetes. Devo ter uns 500 artigos não recolhidos em livro. Alegrias? Quando acho que fiz um bom poema.
6- Quais foram as suas frustrações literárias?
Régis Bonvicino: Eu nunca acreditei tanto assim em literatura. Acho poesia uma cadeira de dragão, quando você quer mudar as coisas, como eu quis e quero. No Brasil, há censura. É o conto “Teoria do medalhão” do Machado. Nesses últimos 20 anos, pelo menos, houve um grande retrocesso – poesia amadora e anacrônica, sem viés social. Escrever poesia é uma coisa, fazê-la é outra.
7 – Qual é o seu objetivo na literatura?
Régis Bonvicino: O de inovar, o de não fazer uma poesia deduzida, requentada, mas uma poesia inventiva.
8 – Você julga a escrita superior à oralidade? Por quê?
Régis Bonvicino: Não acho. Palavra falada e cantada são importantes também. Mas não compreendi bem a pergunta e peço desculpas.
9 – Como você se organiza para escrever?
Régis Bonvicino: Eu faço rascunhos o tempo todo e depois paro e escrevo.
10 – Você quer ser reconhecido? Por quê?
Régis Bonvicino: Sob o capitalismo, reconhecimento seria ganhar dinheiro com poesia. Viver dela.
11 – O que é um poeta ou um escritor?
Régis Bonvicino: Procuro responder à essa questão com o meu trabalho.
12 – Todo escritor é vaidoso?
Régis Bonvicino: Ser vaidoso é um defeito.
13 – Como você lida com o fracasso?
Régis Bonvicino: Há muito tempo eu lido com o fracasso, risos.
14 – Como você lida com o sucesso?
Régis Bonvicino: O que é sucesso em poesia?
15 – Qual é o autor contemporâneo que, de fato, você admira? Seja sincero (a).
O uruguaio Eduardo Milán (mora no México) e o americano Charles Bersntein (Nova Iorque). São poetas críticos, pensadores, com projetos. São um pouco mais velhos do que eu, mas são de minha geração.