Para o parnaso-marxismo, o marxismo é uma tela protetora, eletrificada. Não se sofre – denuncia-se, se vê de longe. É a frigidez parnasiana. Michel Tournier encontrou um lapso na dedicatória das Flores do Mal. Nota que, quando Baudelaire envia seu livro a tal parnasiano, acaba se traindo, pois escreve “ao impecável poeta”, quando o desejo de…
Autor: Régis Bonvicino
O LEGADO DE OCTÁVIO PAZ
Octavio Paz, embora grande, foi um poeta inferior a Vicente Huidobro, Cesar Vallejo, Oliverio Griondo, aos prosadores Lezama Lima e Jorge Luis Borges, aos poetas brasileiros João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade, mas, no entanto, alcançou um alto nível e foi um crítico excepcional, que projetou a América Latina no mundo,…
O fascínio pelo “literário” no Brasil
“Disillusionment of Ten O’ Clock”, do norte-americano Wallace Stevens (1879-1955), um dos gigantes da poesia no século XX, data de 1915. Trata-se de peça menor no conjunto de sua obra e é, aos olhos de hoje, um pouco óbvia no contraste entre a sensaboria local e a poética da imaginação dos viajantes. Intrigou-me ser ela…
O CAMP NOU OU POR QUE SE CALAM OS ESCRITORES CATALÃES?
Cheguei em Barcelona no dia 7 de outubro, vindo do “estelionato Paris”, e um dos lugares que programei para conhecer foi o Camp Nou, do Barcelona. Numa tarde ensolarada, peguei o metrô e fui realizar “um sonho”, porque, daqui do Brasil, ele é “vendido” como um estádio, para usar o clichê, de “primeiro mundo”. Glamour e estrelas!…
O ARTISTA CONFESSO
Embora notícia em todos os jornais brasileiros, o relançamento de Ocão sem plumas (1950) e o lançamento da antologia O artista inconfessável, de João Cabral de Melo Neto, ambos pela Alfaguara, no final de 2007, não foram objeto de nenhuma análise crítica, como se clássicos não fossem passíveis de releitura. Sintoma de que a crítica desapareceu, como já…
NOVELAS, DE BECKETT: À ESQUERDA DA MORTE
Novelas, de Samuel Beckett, reúne três textos provavelmente imaginados entre a parte final da Segunda Grande Guerra e a derrota do nazi-fascismo em 1945. Em julho de 1946, a revista Les Temps Modernes, dirigida pelos filósofos Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, editou um trecho de “O expulso”. Há dois fatos da vida de Beckett…
NOTA SOBRE DRUMMOND
Gauche.”Vai, Carlos! ser gauche na vida”. Ser gauche na vida. Eis, para mim, a mais perfeita definição de poesia. Vai, ser gauche, na vida. E não em algum lugar pacificado, seja lá qual for. O verbo no imperativo, como se Carlos, sinônimo de ser, fosse um querelado, um criminoso. Vai, letra a letra, enredado em…
MURILO MENDES E A POESIA BRASILEIRA DE HOJE
A poesia de Murilo Mendes representa um desafio para a crítica porque, entre tantas razões, percorreu o caminho oposto ao de outros grandes poetas brasileiros: foi melhorando ao longo do tempo, especificamente, a partir de Poesia Liberdade, de 1947, quando seus contemporâneos, como Carlos Drummond de Andrade, já haviam praticamente escrito seus livros mais significativos….
MEU NOVO NOME: GREGOR SAMSA
Decidi mudar meu nome desde os atentados de novembro em Mumbai. Estava, há muito, enjoado de meu nome artístico: Régis Bonvicino. Os brasileiros não conseguem pronunciar corretamente Bonvicino. E o sobrenome italiano custou-me discriminações ao longo da vida. Cogitei Régis Antonio Rodrigues Bonvicino — extenso demais — e Régis Rodrigues, curto, com uma aliteração, mas inexpressivo,…
MARIO QUINTANA: O POEMA FAZ-SE
Descobri Mario Quintana através de Paulo Roberto Falcão – o melhor meio-campista que vi jogar, seja com a camisa da seleção brasileira, com a do Internacional de Porto Alegre ou com a da Roma. Falcão somava o Clodoaldo e o Gerson da Copa do Mundo de 1970, numa perspectiva mais contemporânea, renovada. Soube, pelos jornais, que…