Régis Bonvicino
Nascido em São Paulo em 1955, Régis Bonvicino reuniu seus poemas numa publicação em Até agora: poemas reunidos (São Paulo: Imprensa Oficial, 2010) e numa seleção, traduzida para o inglês e publicada em 2017 (Beyond the Wall: New Selected Poems. Los Angeles: Green Integer). Ele faz parte de uma geração de poetas brasileiros que surgiu com o declínio da Poesia Concreta e sob os ecos do Tropicalismo na década de 1970.
Como habitante de uma São Paulo global, a poesia de Bonvicino reflete igualmente a condição precária dos seres urbanos contemporâneos nessas décadas. Embora tenha recebido apenas um prêmio em seu país, Bonvicino é um dos poucos poetas brasileiros contemporâneos cujo trabalho tem sido significativamente traduzido e publicado no estrangeiro, o que é prova de sua reputação internacional. Como diz o poeta francês Michel Delville:
[…] a poesia de Bonvicino consegue sua intensidade extraordinária da atenção renovada que ele dá ao ato de olhar, em si, da contemplação de relações e oposições e do desejo de alargar a imaginação seguindo linhas de disjunção, de extensão, de regeneração. Régis Bonvicino é certamente um dos poetas mais desafiadores e interessantes dos últimos vinte e cinco anos.
Filho de Alva Flôr Ferreira de Oliveira e de Odayr Rodrigues Bonvicino, Régis Rodrigues Bonvicino nasceu em São Paulo em 25 de fevereiro do ano já mencionado de 1955. Frequentou o curso primário da Escola Nossa Senhora das Graças e o secundário no Colégio Santa Cruz. Ele mesmo lembra da liberdade com que se podia jogar futebol nas ruas e perambular pelos vários bairros de uma São Paulo “grande e, mesmo assim, civilizada”. Bonvicino cursou a Faculdade de Direito da USP, onde se formou em 1978.
No que se refere ao cinema, central para este autor, admira e tem como inspirador, desde a juventude, o Neorrealismo italiano, incluindo Roberto Rossellini, Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, Pier Paolo Pasolini e Vittorio De Sica, entre tantos outros. De seus ícones literários, Bonvicino lembra haver recortado o obituário de Ezra Pound, de um jornal de 1972. Lia e apreciava Álvares de Azevedo, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e João Cabral de Melo Neto, mas seu poeta favorito era Cesário Verde.
Sua estreia literária deu-se em 1975, no Jornal do Arena. Começou trabalhando como colunista em jornais e revistas de São Paulo, tais como Jornal da Tarde, Isto É, Folha de S.Paulo, até 1989. Começou muito cedo a se interessar por poesia, fundando a revista Poesiaem G,em meados da década de 1970. A ela se seguiu outra revista inovadora, porém efêmera: Qorpo Estranho, cujos dois números Bonvicino coeditou com o artista espanhol Julio Plaza. Essas pequenas revistas foram fundamentais para proporcionar espaço a três gerações de poetas excluídos dos suplementos culturais dos principais jornais, tais como o Jornal do Brasil e O Estado de S. Paulo, durante a ditadura.
Bonvicino autoeditou seu primeiro livro de poemas, Bicho papel (1975), numa publicação modesta de trezentos exemplares. Outra autoedição apareceu pouco depois, em 1978, Régis Hotel. Numa resenha a respeito de Régis Hotel (Polo Cultural, Curitiba, 18 de maio de 1978), Paulo Leminski notou que os primeiros poemas de Bonvicino, como, por exemplo, “?avolho”, deixavam entrever uma espécie de “filiação perplexa ao concretismo”. Numa manipulação feita com a palavra lavolho,marca de gotas para os olhos, no Brasil, o poema cutucava tanto a linguagem da propaganda quanto a ênfase da poesia concreta na cultura visual e de massa.
Em 1979, casou-se e desse casamento teve dois filhos: João Rodrigues da Costa Bonvicino, nascido em 1979, e Marcelo Flores Rodrigues da Costa Bonvicino, nascido em 1987. Um evento traumático na vida de Bonvicino, nesse período, foi o suicídio de sua mãe, Alva Flôr, em abril 1979. Em 1975, Bonvicino iniciou uma amizade também epistolar com Paulo Leminski, que morava em Curitiba. Leminski teve papel decisivo na busca de Bonvicino por modelos poéticos outros que a poesia concreta, e vice-versa, num diálogo fértil, embora divergissem em vários aspectos.
Na década de 1980, Bonvicino lançou (em colaboração com a artista Regina Silveira e Julio Plaza) Do Grapefruit (1981), um livro de Yoko Ono com traduções feitas por Bonvicino e trabalhos de arte de Silveira e Plaza. Bonvicino transformou as instruções conceituais em poemas. Em seguida, ele escreveu prefácios para catálogos de artes plásticas, incluindo um para o argentino León Ferrari (1989). Nesse período, foi conselheiro parlamentar em Brasília, durante a Assembleia Constituinte de 1987 a 1988.
O livro seguinte de Bonvicino, Sósia da cópia, saiu em 1983. Tal obra contém também um importante poema autobiográfico, “vida, paixão e praga de rb”, em que Sebastião Uchoa Leite viu um “retrato da autoflagelação do poeta como diluidor (no sentido poundiano)” e sobretudo uma provocação, em sua caracterização do “poeta como uma ‘mera maldição’, o imitador de imitações” (Leia Livros, junho de 1983). Leminski viu o livro como “uma discussão viva e criativa do próprio conceito de originalidade” (Revista Veja, 13 de julho de 1983). Entre os autores assimilados e traduzidos, um que desperta o interesse especial de Bonvicino foi o simbolista francês Jules Laforgue, cujos trabalhos traduziu e publicou em 1989, no livro Litanias da lua, que inaugurou sua contribuição como tradutor de poesia.
Em 1984 Bonvicino também editou e publicou Desbragada, uma antologia da obra do poeta experimental e visual Edgard Braga, cuja poesia caligráfica ele admirava por sua espontaneidade e singularidade.
Sósia da cópia, por seu caráter crítico, já aponta para o que será a obra de Bonvicino da fase seguinte. Más companhias (1987) foi definido pelo autor como “um livro explosivo com poemas muito intensos que causaram um pequeno escândalo”. Trata-se de um volume esguio, sem numeração de páginas, que explora a questão da autoria a partir de peças de poetas como Borges, Gregory Corso, Safo e Edward Lear. A dicção do livro é bruta, direta. Publicado em 1990, 33 poemas revela o surgimento da rima assonante como um dos fatores de estruturação dos poemas. Os poemas concentram-se mais na observação do mundo da natureza, mas – mesmo assim – a cidade continua muito presente, de diferentes e inesperadas maneiras. 33 poemas entretém um diálogo com a ambiência em que os objetos alteram o ser dos sujeitos no mundo. Tal livro deu a Bonvicino o Prêmio Jabuti de 1991.
Em 1990, Bonvicino tornou-se magistrado por concurso. Em 1992, ele se casou com a psicanalista Darly Menconi, com quem teve dois filhos: Bruna Menconi Bonvicino (que, em razão de bipolaridade grave, se suicida em 19 de outubro de 2018), nascida em 1992, e Felipe Menconi Bonvicino, nascido em 2010. Em 1992, publicou Uma carta uma brasa através: cartas a Régis Bonvicino, 1976-1981, uma reunião das cartas que recebeu de Leminski. As cartas que ele escreveu a Leminski não foram preservadas, logo não constam da publicação; porém, numa edição subsequente, foram acrescentados material crítico e uma introdução atualizada do próprio Bonvicino. Nessa época, Leminski não fazia o sucesso que faz hoje.
A partir de 1990, Bonvicino passou a ser conhecido internacionalmente graças à participação em leituras de poemas, especialmente em Buenos Aires (1990), na Feira de Livros de Miami (1992), e em Copenhagen (1993). Em 1995, por ocasião de uma viagem à França, participou da Terceira Bienal Internacional de Poetas em Val-de-Marne, e leu seus poemas em Paris (Maison de l’Amérique Latine) e em Marselha (International Poetry Center).
O livro seguinte de Bonvicino, Outros poemas (1983), evita o layout não tradicional, um abandono de poucas experiências visuais dos primeiros tempos. Numa entrevista a Caracol-Viola 43 (1998), Bonvicino caracterizou essa escolha como sendo uma alternativa à oposição binária entre poesia visual e verso tradicional:
Eu não gosto dos experimentos de poesia visual que são feitos hoje. Trinta ou quarenta anos atrás um poema visual tinha o sentido de ruptura. Hoje não passa da imitação de um anúncio. Não tem mais o papel de crítica […]. Contudo, também não gosto da ideia de a “linha de verso” ser uma unidade da poesia – não da minha, de qualquer modo. A saída do “verso” (tradicional) não é necessariamente a poesia visual […]. Eu escrevo em versos, mas sem me importar com o metro ou com o verso branco, mas sim prestando atenção aos ritmos da respiração ou do sistema nervoso, por exemplo.
Em meados da década de 1990, Bonvicino publicou, em parceria com Guto Lacaz, um livro infantil dedicado aos filhos, Num zoológico de letras (1994). Também voltou a lançar seus primeiros trabalhos num único volume, Primeiro tempo: reunindo os livros Sósia da cópia, Régis Hotel e Bicho papel (1995), e realizou uma tradução do poeta vanguardista argentino Oliverio Girondo, A pupila do zero = En la masmédula (1995). A primeira em todo o mundo deste grande poeta portenho.
Em Ossos de borboletas (1996), o humor é muito mais contemplativo e menos lúdico do que nos primeiros trabalhos. O diálogo com o poeta americano Robert Creeley nota-se nos versos curtos, especificamente em “Março (2)”, um poema minimalista que lida com diferenças e oposições básicas, e em outros breves esboços urbanos. A crítica norte-americana Marjorie Perloff afirmou sobre este volume:
As novas líricas de Bonvicino, econômicas, minimais, tensas e brilhantemente articuladas, lembram a cada instante a diferença que podem fazer os “ossos de borboletas” […] e ele também sabe, ao medir-se com uma “escola” com mestres americanos do calibre de William Carlos William, Robert Creeley, George Oppen – que […] as pequenas palavras – entre, como, alguém – são tão importantes como suas pretensiosas primas, as palavras que pretendem designar as grandes verdades acerca da experiência…
Com efeito, por alguns anos, Bonvicino esteve realmente estudando os poetas modernistas e contemporâneos da América do Norte, à procura de novas perspectivas poéticas. Em 1996 esteve com Michael Palmer para uma leitura de poemas na San Francisco State University. Nesse mesmo ano, Bonvicino publicou em livros traduções de poemas de Palmer (“Passagens”), de Robert Creeley (“Salve!”). Outro livro com poemas de Creeley, A um: poemas = As one,saiu em 1997, junto com uma seleção de poemas de Guy Bennett, Charles Bernstein, Norma Cole e Douglas Messerli intitulada Duetos: 4 poetas norte-americanos contemporâneos. Nesse mesmo ano Bonvicino publicou também Together 1996 (um poema: vozes), um livro de poemas renga para o qual ele convidou 28 poetas a contribuírem com um segmento.
O interesse de Bonvicino por manter um diálogo poético Norte/Sul incluía também o esforço para disseminar a poesia brasileira nos Estados Unidos. Com esse intuito, colaborou com Palmer para a publicação da antologia Nothing the Sun Could Not Explain: 20 Contemporary Brazilian Poets, nos Estados Unidos, em 1997. O volume foi reeditado como The PIP Anthology of World Poetry of the 20th Century Volume 3, em 2003. Essa era a primeira tentativa, desde Elisabeth Bishop, de expor a um público não só americano, mas, mais especificamente, anglófono, uma seleção de poetas brasileiros contemporâneos.
Em 1998, Bonvicino esteve presente na Segue Performance Foundation de Nova York, juntamente com Charles Bernstein, o poeta experimentalista americano fundador do importante movimento L=A=N=G=U=A=G=E.
Em 1999, Bonvicino realizou leituras na Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha. O livro Me transformo ou O Filho de Sêmele,uma espécie de protesto contra a situação nos Balcãs, com tradução em seis línguas, saiu também em 1998, impresso especialmente para as leituras de Compostela.
O mesmo ano de 1999, no Brasil, foi muito produtivo para Bonvicino. Uma segunda edição aumentada das cartas de Leminski a Bonvicino foi realizada com o título Envie meu dicionário: cartas e alguma crítica. Bonvicino também publicou Primeiras palavras, a tradução de uma obra do poeta, dramaturgo e editor americano Douglas Messerli. A editora de Messerli, Sun and Moon Press, que já não existe, havia publicado as antologias de poesia brasileira realizadas por Régis, e a editora que a sucedeu, Green Integer, publicou dois volumes de poemas de Bonvicino em tradução inglesa. No ano de 1999 foi também publicado Céu-eclipse, o novo volume de poemas de Bonvicino que Aurora Bernardini chamou de “as predições (talvez) do novo milênio” (Jornal da Tarde, 4 de setembro de 1999), e que também ressaltou o “novo literalismo” com que Bonvicino explorava “desafios filosóficos”. Em sua resenha, Wilson Bueno notava como Régis “luta numa direção que, generosamente, parecia indicar caminhos”, e salientava a “capacidade da língua para reordenar o mundo dentro de nós” e que “o mundo muda de luz a sombra em mais um dia” (Gazeta do Povo, 29 de agosto de 1999).
Traduzido por Robert Creeley, Michael Palmer e outros, o primeiro livro em inglês de Bonvicino, Sky-Eclipse; Selected Poems, saiu no ano 2000. No ano seguinte foi publicado um volume multifacetado de colaborações com Palmer, Cadenciando-um-ning, um samba, para o outro: poemas, traduções, diálogos (2001). O título do livro foi retirado de um verso de um poema de Palmer em que ele “relata” a visita que fez a São Paulo, em maio de 1997: “o animal alfabeto/ deu volta por cima/ com suas vinte e três asas/ cadenciando-um-ning, um samba para o morto”. O poema sugeriu o motivo do samba a Bonvicino, que entendeu o projeto não como uma “tradução”, mas antes como um “diálogo de riscos mútuos”. A atitude de Bonvicino de procurar conexões fora do Brasil encontrou, muitas vezes, reações negativas em seu país.
Como colunista, Bonvicino levou adiante suas contribuições para a Folha de S.Paulo e, em 2000, iniciou suas colaborações para O Estado de S. Paulo. Nesse ano realizou leituras de poemas em Iowa City, junto com Michael Palmer, e em Chicago. Em maio de 2001 foi para Coimbra, Portugal, para o IV Encontro Internacional de Poetas, na Universidade de Coimbra. No ano seguinte, foi publicada em Portugal uma coletânea de seus poemas com o título de Lindero nuevo vedado: antologia poética.
Em 2000 Bonvicino fundou Sibila: Revista de Poesia e Crítica Literária, periódico que ele codirigiu com Charles Bernstein. Entre os anos de 2001 e 2006, Sibila publicou seus números impressos, tornando-se uma revista eletrônica e website depois de 2007.
Hilo de piedra, um livro com poemas de Bonvicino, foi traduzido para o espanhol pela revista Sibila de Sevilha (sem ligação com a revista de Bonvicino). Os dois livros seguintes, Remorsos do Cosmos (de ter vindo ao sol), de 2003, e Página Orfã, de 2007, são coleções em que imagens e linguagem da mídia pós-moderna e a consciência das ameaças da globalização colidem com as descrições da crua realidade da vida urbana. Alcir Pécora viu “um cosmo em estado de calamidade belicosa […] persecutório […] insone […] limitado por fronteiras rígidas e opressivas” (“Caderno Mais!”, Folha de S.Paulo, janeiro de 2004). A técnica de montagem de Página órfã junta peças da sucata e dos depósitos de lixo da língua para expor a violência local e global. Alcides Villaça viu nela ecos de um “vitalismo que impressiona, no estilo de Ferreira Gullar”, mas sem ideologia ou profissão de fé estética (Folha de S.Paulo, 31 de março de 2007). Página órfã acumulou atenções críticas substanciais na imprensa.
Bonvicino participou da Feira do Livro da Cidade do México em 2004. Uma seleção de sua poesia em espanhol, Poemas 1990-2004, saiu no México em 2006, e outro livro em espanhol, Carretera Hamster, apareceu na publicação artesanal Cartoneira de Yiyi Jambo em 2009, em Assunção, Paraguai.
Em 2007 realizou leituras de poemas em Santiago do Chile e em Barcelona. Nesse mesmo ano saiu Um barco remenda o mar: Dez poetas chineses contemporâneos, coletânea editada e traduzida por Yao Feng e Régis Bonvicino, uma antologia pioneira de poetas chineses contemporâneos. Bonvicino havia encontrado, em 1999, Yao Feng, um poeta de Macau, tradutor de Fernando Pessoa para o chinês. Entre 2008 e 2009 Bonvicino foi o autor de uma coluna on-line para o Portal iG e, em 2009, a convite de Charles Bernstein, realizou leituras da Universidade da Pennsylvania, na Filadélfia e em Nova York, na Casa do Poeta (Poet’s House). A tradução em livro de poemas de Bernstein Histórias da Guerra havia saído no Brasil um ano antes, em 2008.
Em 2010, Bonvicino publicou, como já se disse, o volume Até agora: poemas reunidos pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, como, certamente, reconhecimento de sua estatura de poeta. A coletânea foi recebida favoravelmente, com numerosas resenhas nos maiores jornais. Apesar de o título de uma delas – a de Márcio Renato dos Santos – se referir a Bonvicino como “um poeta polêmico”, no fim o designa como “um poeta ousado numa busca contínua” (A Gazeta do Povo, 14 de fevereiro de 2011). Para Aurora Bernardini, a publicação dos poemas reunidos de Bonvicino confirma-o como “o mais proeminente dos poetas brasileiros de sua geração” (Folha de S.Paulo, 25 de dezembro de 2010). E Franklin Alves Dassie, desfazendo o tema recorrente da “armadilha”, qualifica a obra de Bonvicino como “uma das mais intrigantes da cena da poesia brasileira” por sua capacidade de criar “um espaço para a intervenção” e, mesmo sugerindo, “uma saída”, embora apenas como possibilidade (“Caderno Prosa e Verso”, O Globo, 7 de maio de 2011).
Em 2011 e 2013 Bonvicino visitou o sudeste da China. Em 2011, Lan ci zhuan, um volume de seus poemas traduzidos por Bei Dao e Yao Feng, entre outros, foi publicado em Hong Kong. Em 2013 foi convidado por Yao Feng para participar da Rota das Letras – Festival Literário de Macau, o primeiro e maior encontro de escritores da China e dos países de língua portuguesa. Os poemas de seu livro Estado crítico (2013) são inspirados pela distopia de São Paulo, de Paris, de Barcelona, de Macau e de Hong Kong: uma reflexão crítica sobre a vida no século XXI.
A mais recente publicação de Bonvicino é um segundo volume, em inglês, de Beyond the Wall: New Selected Poems, traduzidos por Charles Bernstein, Odile Cisneros, Thérèse Bachand (2017). Marcelo Lotufo, escrevendo para Brasil/Brazil (vol. 30, 2017), notou que, nessa coleção, “Bonvicino lembra a todos nós que o sólido ainda se dissolve no ar e que o capitalismo ainda é capitalismo, construído em crenças falsas, desigualdade sempre crescente, e crimes ambientais. O mundo é mais Abu Ghraib e Alepo do que Berkeley e Parque Gramerey”. O poeta indiano K K Srivastava, em resenha sobre Beyond The Wall, publicada na Índia, afirma:
Bonvicino procede mais como um pintor, um pintor pensador, caminho que apenas poucos ousam trilhar. Seu mundo é um mundo perdido, sua recuperação, uma empreitada em andamento, e o livro, um esforço gigantesco para colocar o mundo recuperado em um plano diverso. O poeta admite, de forma muito correta, em “Untitled”, que “Quase ninguém vê/ o que eu vejo nas palavras/ bizantino iconoclasmo/ o relógio marca meia-noite ou meio-dia?”. Razão boa o suficiente para que ele escreva, em “Aniversário”: “I have been overkilled by my peers/ o que digo/ enigma?”. Bonvicino chega bastante perto de Samuel Beckett em termos das qualidades visionárias deste último, de ver além do que não pode ser visto. Após terminar de ler o livro, lembro-me da peça Footfalls (Passos), de Beckett – a fala de May (M), “Qual a minha idade agora?”. Esse é um livro realmente difícil. Mas poesia não deve ser difícil? Senão, para que serve o paraíso?
Bonvicino tem uma sólida e singular dicção e uma sólida trajetória atrás de si, mas – a julgar por sua curiosidade insaciável e por sua energia sem limites – ainda mais e melhor há de vir. O reconhecimento via prêmios não tem sido sua marca registrada (o que parece não o incomodar), contrariamente ao seu prestígio internacional e nacional. Seus poemas foram traduzidos para o inglês, hindi, francês, espanhol, chinês, catalão, holandês, dinamarquês, entre outros idiomas.
Biobliografia de Régis Bonvicino escrita por Odile Cisneros, University of Alberta
English
Regarded as one of Brazil’s leading poets, Régis Bonvicino, a constructivist poet, is in the fifth decade of his literary career, having published his poetry collection in 2010, as well as an anthology of selected poems in English translation in 2017. Bonvicino was part of a generation of Brazilian poets that emerged with the decline of concrete poetry and the dawning of Tropicalism in the 1970s, coming of age in the 1980s and 90s. His work has gone through a number of transformations, a fruitful evolution.
A tireless innovator, Bonvicino first engaged in experiments that blended visuality, vernacular language, and popular culture, developing in later years into a sparse, linguistically self-conscious poetics of close observation, shaped by the American experimental poetry. As a native and life-long resident of the multicultural megalopolis of São Paulo, Bonvicino’s poetry likewise reflects the condition of contemporary urban subjects in a dystopian society. Bonvicino is one of a handful of contemporary Brazilian poets whose work has been recurrently translated and published abroad, attesting to his international reputation. As the Belgian poet Michel Delville sums it up:
“his poetry derives its extraordinary intensity from a renewed attention to the act of looking itself, from the contemplation of relationships and contraries, and from the desire to delight the imagination along the lines of disjunction, extension, and regeneration. Régis Bonvicino is certainly one of the most challenging and interesting poets of the last twenty-five years”
The child of Alva Flôr Ferreira de Oliveira and Oday Rodrigues Bonvicino, Régis Rodrigues Bonvicino was born in São Paulo on February 25th, 1955, city where he spent his childhood. He attended the elementary school, Escola Nossa Senhora das Graças, and the secondary school, Colégio Santa Cruz. Bonvicino recalls the freedom he enjoyed while growing up in “a large, yet civilized” São Paulo, then a city where one could play soccer on the streets, and safely roam its various districts. Bonvicino attended the Law School at the University of São Paulo, graduating in 1978.
Artistically, he was passionate about Italian Neorealism and its main film-makers, including Roberto Rosselini, Federico Fellini, Michangelo Antonioni, Pier Paolo Pasolini, and Vittorio De Sica. Among his literary icons, Bonvicino recalls clipping Ezra Pound’s obituary from a newspaper in 1972. He read and admired Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, and João Cabral de Melo Neto, but the poet he loved the most was Cesário Verde.
Bonvicino made his writing debut in 1975, publishing his work in the newspaper Jornal do Arena. He began working as a columnist for São Paulo’s newspapers and magazines such as Jornal da Tarde, Isto É, and Folha de S. Paulo, an occupation he carried out until 1989. Later, in the mid-seventies, he founded the journal Poesiaem G. This was followed in 1976 by the innovative, albeit ephemeral, review Qorpo estranho: revista de criação intersemiótica, which two issues Bonvicino coedited with the Spanish émigré artist, Julio Plaza. These unpretentious magazines were fundamental in granting space to three generations of poets who, during Brazil’s military rule, were excluded from the cultural supplements of major Brazilian newspapers such as Jornal do Brasil and O Estado de S. Paulo.
Bonvicino put out his first self-published poetry book, Bicho papel (1975), in a modest edition limited to 300 copies. More self-published work appeared soon after: Régis Hotel in 1978, where he experimented with pop music, humor, comic strips, and slang, and Tótem: para Décio Pignatari, in 1979, a poetry chapbook dedicated to Pignatari, another important member of the Brazilian concrete poetry movement. Tótem was a recreation of an iconic poem by Pignatari, and it was proposed as a critical response to concrete poetry, an attitude that would characterize Bonvicino’s early work. In a review of Régis Hotel (Polo Cultural, Curitiba, May 18th, 1978), Paulo Leminski, a Brazilian poet Bonvicino later came to befriend and admire, noted that Bonvicino’s early work, as seen in the poem “?avolho” (Fig. 1), revealed an “attitude of philosophical of perplexity with concretism.” A manipulation of the word lavolho, a brand name of eye drops in Brazil, the poem poked fun at language of advertising, as well as at concrete poetry’s emphasis on mass and visual culture. And while other pieces exhibited a similar critical stance, Bonvicino saw Régis Hotel as “an attempt to think the poet’s function in an industrial and cosmic city” (quoted by Leminski, “Régis Hotel” 102), a remark that echoes modernism’s emphasis on urban experience. Yet Bonvicino’s dialogue with other poetic traditions is attested by the new influences (“guests” as Leminski puts it) that cross paths in Régis Hotel. Their presence is responsible for (as well as witness to) the experimental and intertextual flavor of the collection.
Bonvicino took his first trip abroad in 1977, visiting Portugal, Spain, Italy, England, and New York. Bonvicino has two children (first marriage), João Rodrigues da Costa Bonvicino, born in 1979, and Marcelo Flores Rodrigues da Costa Bonvicino, born in 1987. Yet that year 1979, a traumatic event took place in Bonvicino’s life: his mother, Alva Flôr, committed suicide. In this same period, Bonvicino began a 10-year, mostly epistolary friendship with Paulo Leminski, who lived in Curitiba, and who inspired movements such as Tropicalism and Poesia Marginal.
The 1980s was also a period when Bonvicino became more intensely involved in the visual arts, collaborating with the artist Regina Silveira on Do Grapefruit (1981), an artist’s book with translations of Yoko Ono by Bonvicino, and artwork by Silveira. He subsequently also authored prefaces for art catalogs, including one about the work of the Argentinean artist León Ferrari (1989). In this period, Bonvicino was a parliamentary advisor in Brasília during the 1987-88 Constituent Assembly.
Bonvicino’s next book, Sósia da cópia (1983), brings together elements and figures of History as disparate as the Beatles, Jimi Hendrix, Latin proverbs, Galician troubadour poetry and Wallace Stevens, radicalizing the appropriation impulse of the previous collection. The book also contains an important autobiographical poem, “vida, paixão e praga de rb” (“rb’s life, passion, and cursing”), which Sebastião Uchoa Leite saw as a “self-flagellating portrait of the poet as a diluter (in Pound’s sense)”, ultimately provocative in its characterization of “the poet as a ‘mere curse,’ imitator of imitations” (Leia livros, June 1983). Leminski called it “a lively and creative discussion of the very concept of originality” (Revista VEJA, July 13th, 1983). Among the authors assimilated and translated, one held special interest for Bonvicino, the French symbolist, Jules Laforgue, whose work he translated and published in 1989 in the volume Litanias da lua, inaugurating Bonvicino’s output as poetry translator. In 1984, Régis also edited and published Desbragada, an anthology of the work by the Alagoan visual and experimental poet, Edgard Braga, whose calligraphic poetry he admired for its inspired spontaneity and idiosyncratic exploration.
In its multifaceted experimental temper yet critical stance, Sósia da cópia, already points the way to Bonvicino’s work of the next phase. Más companhias (1987), in the author’s view an “explosive book with very intense poems [that] caused scandal”, is a slim, unpaged book, which explores the question of authorship. Más companhias constituted a transition from these early works to the tone of 33 poemas. Published in 1990, the book 33 poemas reveals a departure from Bonvicino’s earlier work in two significant ways: the emphasis on visual puns disappears, and poems and assonant rhyme become the structuring agents. The “foreign” element is treated less as a citation or literary “loan” than as a prompt for an original poem. Content-wise, poems concentrate more on the observation of the natural world, although the city is still present in unexpected ways. The book 33 poemas establishes a dialogue with its surroundings, where objects become signs that alter the being-in-the-world of the subject. The book 33 poemas earned Bonvicino the prestigious Jabuti Prize in 1991.
In 1992, Bonvicino married the psychoanalyst Darly Menconi, with whom he has two children, Bruna Menconi Bonvicino (1992-2018), and Felipe Menconi Bonvicino, born in 2010. In 1992, Bonvicino published Uma carta uma brasa através: cartas a Régis Bonvicino, 1976-1981, a collection of the letters he received from Leminski. His letters to Leminski were not preserved, so they were not included, although a later edition added critical material and an updated introduction by Bonvicino.
From the 1990s on, Bonvicino began to establish a reputation abroad through his participation in poetry readings, notably, in Buenos Aires (1990), the Miami Book Fair (1992), and Copenhagen (1993). On a trip to France in 1995, he participated in the Third Val-de-Marne International Biennial Poetry Festival, subsequently also giving readings in Paris (Maison de la Amérique Latine) and Marseille (International Poetry Center).
Bonvicino’s next book Outros poemas (1993) signaled a return to writing in lines, mostly avoiding non-traditional textual layout, a move away from his early days of visual exuberance. In an interview for the review Caracol-Viola 43 (1998), Bonvicino characterized this choice as an alternative to the binary opposition between visual poetry and traditional verse:
I’m not fond of the visual poetry experiments that are carried out today. Forty or thirty years ago a visual poem had a sense of rupture. Today, it’s an imitation of advertising. It’s uncritical […] However, I also don’t like the idea of the “line of verse” as a unit for poetry –in any case, not for mine. The way out of (traditional) “verse” is not necessarily visual poetry (…) I write in lines –not paying attention to meter or to blank verse but paying attention instead to the patterns of breathing or the rhythms of the nervous system, for example.
In the early to mid-1990s, Bonvicino published a children’s book dedicated to his children, Num zoológico de letras (1994). He also re-released his early work in a single volume, Primeiro tempo: reunindo os livros Sósia da cópia, Régis Hotel e Bicho papel (1995), and put out a translation of the Argentinean avant-garde poet Oliverio Girondo, A pupila do zero = En la masmédula (1995).
Starting with Outros poemas, Bonvicino’s poetry had begun to stray deliberately from the obvious, containing gestures towards metaphor and comparisons that are never completely explicit. In their conciseness and brevity—images sketched out in a couple of words—these texts harken back to haiku poetry and minimalist aesthetics, thematically balancing direct observations of nature in the urban landscape with more abstract philosophical reflections.
In Ossos de borboleta (1996) the mood is much more contemplative and less playful than in earlier works. A dialogue with the work of the American poet Robert Creeley is present in the short lines of poetry, specifically in “Março (2)” (March [2]), a minimalist poem concerned with basic differences and oppositions, being equally noticeable in other brief urban vignettes. The volume caught the attention of critics both in Brazil and abroad. The American poetry critic, Marjorie Perloff, praised the book, also noting how this new poetry reflected Bonvicino’s contact with contemporary American poets:
Bonvicino’s spare, minimal, taut, and brilliantly articulated new lyrics are every bit concerned with the difference that “butterfly bones” can make. […] And he also knows – having put himself through a “school” with such U.S. masters as William Carlos Williams, Robert Creeley, George Oppen – that […] the small words – entre, como, alguém – are as important as their more pretentious cousins, the big nouns that claim to point to the great truths about experience.
Indeed, for a few years, Bonvicino had been seriously exploring modernist and contemporary American poets in search of fresh perspectives on poetics. In 1996, he joined Michael Palmer at a reading at San Francisco State University. That same year, Bonvicino published book-length translations of poetry by Palmer (Passagens) and Robert Creeley (Salve!). One more volume of translations of Creeley’s poetry, A um: poemas = As one, came out in 1997, as did a selection of poems by Guy Bennett, Charles Bernstein, Norma Cole, and Douglas Messerli entitled Duetos: 4 poetas norte-americano contemporâneos. Moreover, in the year 1996, Bonvicino also published Together 1996 (um poema: vozes), a renga book-poem where Bonvicino invited 28 poets to contribute a segment.
Bonvicino’s sustained interest in the North-South poetic dialogue also included efforts at disseminating Brazilian poetry in the United States. To that end, he collaborated with Palmer on the anthology, Nothing the Sun Could Not Explain: 20 Contemporary Brazilian Poets, published in the United States in 1997. The book was reissued in 2003 as The PIP Anthology of World Poetry of the 20th Century Volume 3. The American poet Guy Bennett praised the book as “examining issues of language and writing, and, by so doing, dialoguing in a wider sense with other cultures” (Folha de S. Paulo, 5 July 1997). This was the first effort since Elisabeth Bishop’s An Anthology of Twentieth-Century Brazilian Poetry (1972), to expose American, and, more widely, English-speaking audiences, to a selection of contemporary poets from Brazil.
In 1998, Bonvicino made an appearance at the Segue Performance Foundation in New York by the side of Charles Bernstein, the American experimental poet and founder of the influential L=A=N=G=U=A=G=E movement. In 1999, Bonvicino traveled to give readings at the University of Santiago de Compostela, Spain. The chapbook Me transformo ou O Filho de Sêmele, a kind of protest poem against the chaos in the Balkans, came out that year, with translations into 6 languages, expressly printed for the Compostela readings.
On the home front, the year of 1999 was a very productive one for Bonvicino. A second, expanded edition of Leminski’s letters to Bonvicino appeared under the title Envie meu dicionário: cartas e alguma crítica. Bonvicino also published Primeiras palavras, a translated volume of works by the American poet, playwright, and publisher, Douglas Messerli. Messerli’s now defunct Sun and Moon Press had published the Brazilian poetry anthologies previously edited by Bonvicino, and its successor publishing company, Green Integer, issued two volumes of Bonvicino’s poetry in English translation. The year of 1999 also saw the appearance of Céu-eclipse (Sky-eclipse, 1999), Bonvicino’s next poetry book. It was praised by Aurora Bernardini (Jornal da Tarde, September 4th, 1999) as “one of the predictions (perhaps) of the new millennium”. Bernardini further points out that Bonvicino’s “new literalism” explored “philosophical challenges.” In his review, Wilson Bueno noted how Bonvicino “strives in a direction that, generously, seems to indicate paths,” stressing language’s “capacity to reorder the world in us, and that the world changes between the light and the shadow of one more day” (Gazeta do Povo, August 29th, 1999).
Translated by Michael Palmer and others, Bonvicino’s first book in English, Sky-eclipse: Selected Poems, came out in 2000. The following year, he published a multifaceted volume of collaborations with Palmer, Cadenciando-um-ning, um samba, para o outro: poemas, traduções, diálogos (2001). The book’s title comes from a line in a poem by Palmer where he recounts a visit to São Paulo in May 1997: “the animal alphabet/ passed overhead /with his twenty-three wings / rhythm-a-ning, a samba for the dead.” The poem suggested a samba motif for Bonvicino, who understood the project not as a “translation” but rather as a “dialogue of mutual risks.” The volume received variegated criticism by the critics. Marjorie Perloff praised in the preface to the book its contribution to the insufficient dialogue between North and South America, highlighting how it evidenced a “delicate and lovely balance”. Nevertheless, in Brazil, Bonvicino’s habit of seeking connections abroad many times faced negative reactions.
As a columnist, Bonvicino continued contributing to Folha de S. Paulo, and in 2000 he began his collaboration with O Estado de S. Paulo. That year, he did readings with Michael Palmer in Iowa City and in Chicago. In May of 2001 he traveled to Coimbra, Portugal, for the IV International Meeting of Poets at the University of Coimbra. The following year, Lindero nuevo vedado: antologia poética, a selection of his works, was published in Portugal.
In 2000, Bonvicino founded Sibila: Revista de Poesia e Cultura, a poetry and culture review that he codirected with Charles Bernstein. Starting in 2001 as a printed review, Sibila became an electronic review in 2006 and a website after 2007. In 2002, Hilo de piedra, a chapbook containing the Spanish translation of Bonvicino’s poetry was published by the Sevillian homonymous review Sibila, which holds no connection to Bonvicino’s own Sibila review. Bonvicino’s next two books Remorso do cosmos (de ter vindo ao sol) (Remorse of the Cosmos [for Having Arrived at the Sun], 2003) and Página orfã (Orphan Page, 2007) are collections where images and language from postmodern media together with an awareness of global threats collide with depictions of the harsh reality of São Paulo’s urban life. Alcir Pécora saw “a cosmos in a state of bellicose calamity […] persecutory […] sleepless […] bound by rigid and oppressive boundaries” (Caderno Mais! Folha de S. Paulo, January 2004). Página órfã’s montage techniques are based on assembling pieces from urban scrapheaps and from the junkyard language, to expose local and global violence. Alcides Villaça saw in it echoes of an “impressive vitalism in the style of Ferreira Gullar” but without this last ideology or profession of aesthetic faith (Folha de S. Paulo, March 31st, 2007). Página órfã garnered substantial critical attention in the press.
Bonvicino took part in the Mexico City Book Fair in 2004. A selection of his poetry in Spanish, Poemas, 1990-2004, came out in Mexico in 2006, while in 2009 another book in Spanish translation, Hamster highway, appeared in the artisanal “cartonera” publisher, Yiyi Jambo, from Asunción, Paraguay. In 2007 he gave readings in Santiago de Chile and Barcelona. Um barco remenda o mar: Dez poetas chineses contemporâneos (2007), edited and translated by Yao Feng and Régis Bonvicino, was a pioneering anthology of contemporary Chinese poets. Bonvicino had met Yao Feng, a poet from Macau and the translator of Fernando Pessoa into Chinese, in 1999, and they collaborated on the translations for the anthology.
Bonvicino authored an online column for Portal iG between 2008 and 2009. In 2009, at the invitation of Charles Bernstein, Bonvicino gave readings at the University of Pennsylvania, in Philadelphia, and at the Poets House of New York City. Bonvicino’s book-length translation of Bernstein’s poetry, Charles Bernstein, Histórias da Guerra had come out a year earlier, in 2008.
Bonvicino published his collected poems, Até agora: poemas reunidos with the official publishing house of the State of São Paulo in 2010, an acknowledgment of his stature as a poet. The collection was received favorably, with numerous reviews in major newspapers. For Aurora Bernardini, the publication of Bonvicino’s collected poems confirmed him as “the most prominent Brazilian poet of his generation” (Folha de S. Paulo date), and Franklin Alves Dassie, zeroing in on the recurring theme of entrapment, called Bonvicino’s oeuvre “one of the most intriguing of the Brazilian poetry scene” because of its ability to create “a space for intervention” and eventually suggesting “a way out”, even if only as a potentiality. (O Globo [Caderno Prosa e Verso] May 7th, 2011).
In 2011 and 2013 Bonvicino traveled through the southeast of China. In 2011, Lan ci zhuan, a volume of his poetry translated by Bei Dao and Yao Feng, among others, was published in Hong Kong. In 2013, he was invited by Yao Feng to participate in Rota das Letras-Festival Literário de Macau, the first and largest meeting of writers from China and Lusophone countries. The poems in his subsequent volume Estado crítico (2013) are inspired by both Bonvicino’s trips to China, as well as by a critical reflection on the precariousness of life in the twenty-first century. For Cândido Rolim, Estado crítico presents “poetry as an agonizing semiotic model, a discourse that presents itself on irreparable grounds — a precarious now in crisis, a suspicious mirror of the world (Germina Literatura, June 2015).
Bonvicino’s most recent publication is a second book in English, Beyond the Wall: New Selected Poems, translated by Charles Bernstein, Odile Cisneros, and Thérèse Bachand (2017). Marcelo Lotufo, writing for Brasil/Brazil (v.30, 2017), noted that in this collection “Bonvicino reminds us that all that is solid still melts into air, and capitalism is still capitalism, built on fake beliefs, ever-rising inequalities, and environmental crimes. The world is more Abu Ghraib and Aleppo than Berkeley and Gramercy Park.” According to the Indian poet K K Srivastava’s review of Beyond The Wall: “Bonvicino acts more like a painter, a thinking painter lost in lording over a literary empire only a few dare tread and even a fewer succeed. His world is a lost world, its retrieval an ongoing enterprise, and his book a gigantic effort to place the retrieved world on an even plane. The poet admits, and very correctly, in ‘Untitled’ that ‘Almost no one sees/what I see in words/byzantine iconoclasm/the clock reads midnight or midday?’ Reason good enough for him to pen in ‘Birthday’- ‘I have been overkilled by my peers/what do I say/enigma?’ Bonvicino comes very close to Samuel Beckett in terms of the latter’s visionary qualities of looking beyond the unseeable. After finishing the book, certainly not meant for plebeians, I am reminded of Beckett’s play Footfalles, where one of May (M)’s lines reads ‘What age am I now?’ A really difficult book. But isn’t poetry supposed to be difficult? Otherwise, what is heaven for?”
The recent loss of life of his young 25-year-old daughter Bruna, who, following a long battle with borderline disorder, repeated the gesture committed by her grandmother, Bonvicino’s mother, 40 years before, will certainly add to the philosophical bewilderment already present in Bonvicino’s oeuvre. The poet has a solid trajectory behind him, and to judge from his restless curiosity and boundless energy, one is entitled to expect that his artistic output will, whatever tone it may come to assume, keep to the worldwide reputation it enjoys among poetry audiences.
Bonvicino’s poems have been translated into English, Hindi, Spanish, French, Chinese, Catalan, Dutch, Danish, among other languages.
Odile Cisneros
University of Alberta