BUTTERFLY BONES
EGO
Ego unhinges
siren & skull
Narcissus
of an I
imprecise Bosch
at clavical height
Species of cogito
the sign of incognito
Shadowless man
in the skin,
body around almost nothing
Tr. Jennifer Sarah Frota
EGO
Ego desprega
sereia e caveira
Narciso
de um eu
impreciso Bosch
na altura da clavícula
Espécie de cogito
do signo incógnito
Homem sem sombra
Na pele,
corpo em torno do quase nada
I TRANSFORM MYSELF
I transform myself,
another window –
another
withdrawing and not returning
in disobjectivations and reactivations,
in lines and realignments
others
traverse me
dead of being
things lose sense
figurative expressions
like butterfly bones
I transform myself
by observing
a petal
·
I untransform myself
the same window –
another
not withdrawing
In objectivations,
in existent lines
and alignments
alike repassing me
Deactivated portrait,
taxidermist of myself.
Tr. Charles Perrone
ME TRANSFORMO
Me transformo,
outra janela –
outro
que se afasta e não se reaproxima
nas desobjetivações e reativações,
nas linhas e realinhamentos
outros
me atravessam
morto de ser
coisas perdem sentido
expressões figuradas como
ossos de borboleta
me transformo
na observação
de uma pétala
·
Me destransformo
a mesma janela –
outro
que não se afasta
Nas objetivações,
alinhamentos
e linhas inexistentes
iguais me repassam
Retrato desativado,
taxidermista de mim mesmo
ME TRANSFORM – O!
Me transform – O!
outta vanilla
outro
hey see a fast a, eh, neo so re: a proxy ma
not day’s objective cues, eh, reactivate cues
not – line has to realign mementos
outro
me a traveling man
Morty deserves
cause per diem sent I do
espressos figured as coma
oh, so the bourbon let a …
me transform – O!
nah – observe a cow
the humid petals
·
Me detransform – O!
a mess my vanilla
outro
hey now see a fast a
Not objective cues
aligned mementos
a line has inexistent
iguanas – me re: pass am
Retract ode sat I’ve a do
taxidermist of mime, mess, more
Homophonic translation by Charles Bernstein
BIRD (1)
brazilwood bird
(native)
annatto tree
– dry point, red ink
versus the ultraviolet –
the wind’s snap bean
bird in the nest
shell
inside places
watercolor
and little wood
bird, beside
– stamen rays
rocks leaves –
bromeliads
on st. gonçalinho beach
pine tree fruit
seeds from the amazon
ox-eye
sponge
ceramic and glass shards
from colonial times
found in paraty
snap bean of the flamboyant
locket
wood box
to keep
things
themselves
in bromélias
by maté of paraty
Tr. Jennifer Sarah Frota
PÁSSARO (1)
pássaro de pau-brasil
( indígena )
urucum
– ponta seca, tinta vermelha
versus a ultravioleta –
vagem do vento
pássaro no ninho
concha
lugares de dentro
aquarela
e passarinho
de madeira, ao lado
– estames são raios
pedras folhas –
bromélias
na praia de são gonçalinho
frutos do pinheiro
sementes da amazônia
olho-de-boi
bucha
cacos de cerâmica e vidro
da época da colônia
recolhidos em paraty
vagem do flamboyant
relicário
caixa de madeira
para guardar
coisas
em si
nas bromélias
de maté de paraty
THE NIGHT
The night is a plain
deserted
or paramo
shadow of sounds
(on a corner)
uncertain
concurrence of antennae
dwarves
or contracted
eletric light
in the empty bedroom
night
from the height of your silence
meanwhile
i pronounce myself
Tr. Jennifer Sarah Frota
A NOITE
A noite é uma planície
deserta
ou páramo
é sombra de sons
( numa esquina )
incerta
concorrência de antenas
anãs
ou contraída
luz elétrica
no quarto vazio
noite
do alto de vosso silêncio
entretanto
me pronuncio
AMONG
Among motors
and noises
(dry
chirp
and dissonant
splinter)
the bird’s flight
creates
a new hypothesis
of space
Tr. Dana Stevens
ENTRE
Entre motores
e ruídos
( pio
dissonante
e seco
estilhaço )
o vôo do pássaro
cria
uma nova hipótese
de espaço
WHERE
Where I write
there’s the noise
of the city garbage after
it’s collected
being ground
there’s a lamp
a chest of drawers
with a mirror
and a bed
unmade
autumn is near
the window closed
a sudden fatigue
takes charge of the words.
Tr. John Milton
ONDE
Onde eu escrevo
há o ruído
do lixo da cidade depois
de recolhido
sendo triturado
há um abajur
uma cômoda
com espelho
e uma cama
desarrumada
o outono está próximo
a janela fechada
uma cansaço súbito
toma conta das palavras.
FROM “FIGURES”
(DAYS, CIRCLE, QUADRATE)
Days
in my quarters
days
in rectangles
Dromedaries
squared
are circles
with angles
Tr. Jennifer Sarah Frota
DE “FIGURAS”
(DIAS, CÍRCULO, QUADRADO)
Dias
no quarto
dias
em retângulos
·
Dromedários
quadrados
são círculos
com ângulos
CIRCLE
As vibrant
as
a sun
at its zenith
·
As obvious
as
the time
on a clock
·
Gnawed
circles
in the tree
squirrels
move
in circles
Tr. Jennifer Sarah Frota
CÍRCULO
Tão vivo
quanto
um sol
a pino
·
Tão óbvio
quanto
o tempo
no relógio
·
Roídos
círculos
na árvore
esquilos
se movimentam
em círculos
QUADRATE
for BRUNA
One ant
cutting clouds
ants trace
quadrate paths
while white
clouds pass
the sunset
giraffes
four by four
Tr. Régis Bonvicino and Robert Creeley
QUADRADO
para BRUNA
Uma formiga
picando nuvens
formigas traçam
trilhas quadradas
enquanto brancas
nuvens passam
o pôr-do-sol
e as girafas
de quatro em quatro
JANUARY
Flower-red
leaves-lizard heads
stems
advance upon the balcony
rain falls
in the window
blue shadow
in the liquid sky
tense sun, from thunder,
a bird pecks the pistils
closed corolla
summer
Tr. Jennifer Sarah Frota
JANEIRO
Flor – vermelha
folhas – cabeças de lagarto
talos
avançam sobre a varanda
na janela
cai a chuva
sombra de azul
no céu líquido
sol tenso, de trovões,
um pássaro bica os pistilos
corolas fechadas
estio
210195
Eyelids of stars
clouds coupled to the sea sparkle
silence of insects
Tr. Jennifer Sarah Frota
210195
Pálpebras de estrelas
nuvens junto ao mar cintilam
silêncio de insetos
MOON
Full moon
(sleepless sun)
fused
to the mountain
Itabirito
iron mine
and quartzite
look out
from inside the sky
around,
what does the infinite
matter?
Tr. Jennifer Sarah Frota
LUA
Lua inteira
( sol insone )
junto
à montanha
Itabirito
minério de ferro
e quartzito
mirante
de dentro do céu
ao redor,
que importa
o infinito ?
MARCH, (2)
after CREELEY
In the quick
sunset
window
first
light of night
indistinct
trees
buildings
and summer
someone
turns
a corner
Tr. Regina Alfarano
MARÇO, (2)
depois de CREELEY
No rápido
pôr-do-sol
janela
primeira
luz da noite
indistintas
árvores
prédios
e o verão
alguém
dobrando
a esquina
SOMETIMES
after LA FONTAINE
Sometimes donkey
carrion, horn
fly on the body
useless fox
Sometimes crow
falcon, eagle
peacock-snake
glazed pupils
Sometimes wolf
dog and greed
mute rat
idiot growl
God and bees
sometimes flowers
nails and teeth
a dry lake
Who wants the voice?
an earless dog
an earless frog
rat à la Van Gogh
Tr. Regina Alfarano and Dana Stevens
ÀS VEZES
depois de LA FONTAINE
Às vezes burro
chifre carniça
mosca no corpo
raposa inútil
Às vezes corvo
falcão e águia
pavão serpente
pupilas foscas
Às vezes lobo
cão e cobiça
o rato mudo
e rosna lorpa
Deus e as abelhas
às vezes flores
unhas e dentes
lagoa seca
Quem quer a voz?
cão sem orelhas
rã sem orelhas
rato à Van Gogh
BLUE
If I say blue
beyond
intelligence
of the blue
·
Voice of
a bird
when
in the morning
night
mute
is still
shadow
Tr. John Milton and Regina Alfarano
AZUL
Se eu digo azul
além
inteligência
do azul
·
Voz de
pássaro
quando
na manhã
a noite
muda
ainda é
sombra
UNTITLED (2)
Eden of dry petals
Ant with swollen abdomen
Shadows of identical figures
– Suns excluded –
Vipers
Near the lost times suns
which cannot be identified
(The car crunches alyssums and verbenas)
Petals seen through the window
A nonexistent cloud that moves
Tr. John Milton
SEM TÍTULO (2)
Éden de pétalas secas
Formiga de abdome inchado
Sombras de figuras idênticas
– Sóis excluídos –
Víboras
Perto de tempos perdidos sóis
que não podem ser identificados
(O carro rói alissos e verbenas)
Pétalas vistas pela janela
Inexistente nuvem que se movimenta
THE ADVENTURES OF (RENGA)
Hill, leaf, space, field
fallen night, body, rock
life – the silent star,
snake and other sudden
stirrings of horizon
now swept by wind
Morro, folha, espaço, campo
noite morta, corpo, rocha
vida – silenciosa estrela,
serpente e outros movimentos
abruptos do horizonte
varrido agora pelo vento
Tr. Régis Bonvicino and Douglas Messerli
BIRD (2)
for DOUGLAS MESSERLI
Harsh bird
of silence
exile
in itself from time
Ever asking
lilies
earthword
never
Tr. Régis Bonvicino
PÁSSARO (2)
para DOUGLAS MESSERLI
Pássaro áspero
do silêncio
exílio
em si do tempo
Que se pergunta
lírios
terrapalavra
nunca
VOICE
answering FERLINGHETTI
One voice
ri-
sing
against
rising against
hole
in the pale
blue against
hollow magnolia
– moves
alone among
flames
Tr. Régis Bonvicino
VOZ
respondendo a FERLINGHETTI
Uma voz
que se
levante
contra
que se levante
buraco
no azul
pálido contra
magnólia oca
muda
só –
entre chamas
THE DISORDER OF
The disorder of succesive
ateliers Picasso’s heirs
paid taxes with drawings
Derain Cézanne Matisse Seurat
Against a backdrop of reciprocal blue
Picasso – woman with large
ear and Fernande’s head
Passel of worms Picasso
collected Pitcher of clay
decorated with she-goat
hollowed-out Picasso with striped
shirt. Forehead eyes nose
and olive mouth of Françoise
A DESORDEM DE
A desordem de sucessivos
ateliês herdeiros de Picasso
pagaram impostos com desenhos
Derain Cézanne Matisse Seurat
Contra um fundo de azul mútuo
Picasso – mulher com orelha
grande e a cabeça de Fernande
Pábulo de vermes Picasso
colecionava Picuá de barro
decorado com cabra
Picasso cavado com camisa
de listas. Testa olhos nariz
e morena boca de Françoise
Gilot
the arch of eyebrows highlights
the clear eyes (large hips)
petals of slender femaleflower
the Garden of Ebro Tarragona
Boulevard de Clichy Cadaqués
Picasso and Braque in Céret Eva Gouel
Whores of Avignon vase, carafe
newspapers and the color of the letters kou
Boulevard Raspail Stein Sorgues
(and Eluard’s future moons)
Eva dies from tuberculosis
Rome Montrouge Olga Koklova
Derain in front of the stringless “Guitar” and
Picasso proposed a dialogue
between space and light
Tr. Michael Palmer
Gilot
o arco de sobrancelhas marca
os olhos claros (quadris largos)
pétalas de fina fêmeaflor
em Horta de Ebro Tarragona
Boulevard de Clichy Cadaqués
Picasso e Braque em Céret Eva Gouel
Putas de Aviñón vaso, garrafa
jornais e a cor da letra kou
Boulevard Raspail Stein Sorgues
(e as futuras luas de Éluard)
Eva morre de tuberculose
Roma Montrouge Olga Koklova
Derain no front e a “Guitarra” sem corda
Picasso propôs um diálogo
entre o espaço e a luz
NIGHT (2)
Night without sunset’s
work without
moon’s work
indigo and the blue
empty twilight
sky’s place?
Without star’s force
confined space
Effort of colours
the glasses echo
night’s work
and daybreak
Tr. Régis Bovicino and Robert Creeley
NOITE (2)
Noite sem trabalho
de pôr-do-sol. Sem
trabalho de lua
índigo e o vazio
do azul anoitece
trabalho de céu?
sem força de estrelas
confinado espaço
Esforço de cor
so vidros ecoam
trabalho da noite
e só amanhece
LEAVES
Female mandrake leaves
mandrakes of this moment when
vultures inhabit
the blue
mouths softer than
wine
january sun burns
the skin
burs slay vipers
salamanders and consonants
under the moss
of ciphers
chameleons
hollow hoof of deer
maimed centipedes
tail of an illustrious peacock
Tr. Michael Palmer
FOLHAS
Folhas fêmeas da mandrágora
mandrágoras do agora quando
abutres habitam
azuis
bocas mais suaves do que
vinho
o sol de janeiro queima
a pele
ouriços trucidam víboras
salamandras e consoantes
sob o musgo
de cifras
(como se diz
não se adia
a cor
da noite)
camaleões
o casco oco de um cervo
lacraias mancas
a cauda de um pavão emérito