CANÇÕES PREDILETAS DE RÉGIS BONVICINO
Enquete Ilustrada
23 de Abril de 2001
Eis minha lista:
- Baby, de Caetano Veloso;
- Desafinado, de Tom Jobim (o maior músico do Brasil) e Newton Mendonça; e
- Na Cadência do Samba, de Ataulfo Alves e Paulo Gesta.
“Baby”, que é minha favorita, sintetiza muita coisa importante: a idéia
de um Terceiro Mundo, que sente e pensa a presença da força da economia e
da cultura anglo-americana no final dos anos 1960. A presença do pronome: você, revelando intimidade. O recurso da enumeração caótica. A ruptura com o isolamento: você precisa saber inglês, saber o que eu não sei. É, ao mesmo tempo, um hino convocatório mas de um lirismo acrílico. Lá vejo o conceito de performance: LEIA NA MINHA CAMISA. E um novo corpo: “me ver de perto”, que ouvi, sempre, como “viver de perto”. E ouço também “aquela canção do Roberto”, ou seja, o ápice do gênero canção, como instrumento de alguma mudança no cenário brasileiro, com a Bossa-nova, o Tropicalismo e a Jovem Guarda, que, depois dos anos 1980, entrou em declínio acentuado. Ser “desafinado” é sempre um tema ou um lema, permanente, para quem quer fazer arte de inovação. Na “Cadência do samba”: agrada-me a idéia de morrer numa batucada de bamba, na cadência bonita do samba, ao contrário da morte seca, triste, católica – numa batucada de bamba significa, em outros termos, a morte molhada dos astecas.
Baby
Você
Precisa saber da piscina
Da margarina
Da carolina
Da gasolina
Você
Precisa saber de mim
Baby baby
Eu sei que é assim
Você
Precisa tomar um sorvete
Na lanchonete
Andar com a gente
Me ver de perto
Ouvir
Aquela canção do Roberto
Baby baby
Há quanto tempo
Você
Precisa aprender inglês
Precisa aprender o que eu sei
E o que eu não sei mais
E o que eu não sei mais
Não sei
Comigo vai tudo azul
Contigo vai tudo em paz
Vivemos na melhor cidade
Da América do Sul
Da América do Sul
Você precisa
Não sei
Leia na minha camisa
Baby baby
I love you
Baby baby
I love you
Desafinado
Se você disser que eu desafino amor
Saiba que isto em mim provoca imensa dor
Só privilegiados têm o ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas o que Deus me deu
Se você insiste em classificar
Meu comportamento de antimusical
Eu mesmo mentindo devo argumentar
Que isto é Bossa Nova, isto é muito natural
O que você não sabe nem sequer pressente
É que os desafinados também têm um coração
Fotografei você na minha Rolley-Flex
Revelou-se a sua enorme ingratidão
Só não poderá falar assim do meu amor
Ele é o maior que você pode encontrar
Você com a sua música esqueceu o principal
Que no peito dos desafinados
No fundo do peito
Bate calado, que no peito dos desafinados
Também bate um coração
Na Cadência do Samba
Sei que vou morrer não sei o dia
Levarei saudades da Maria
Sei que vou morrer não sei a hora
Levarei saudades da Aurora
Quero morrer numa batucada de bamba
na cadência bonita do samba
Mas o meu nome ninguém vai jogar na lama
Diz o dito popular
Morre o homem, fica a fama
Quero morrer numa batucada de bamba
Na cadência bonita do samba