UMA SÓ PALAVRA
Claude Royet-Journoud e Régis Bonvicino
Texto publicado em Sibila, a. 4, nº 7, novembro de 2004
Claude Royet-Journoud nasceu, em 1941, na cidade de Lyon, na França. Vive em Paris há décadas. Trabalhou, durante trinta anos, numa tetralogia poética que foi sendo lançada por partes: Le Reversement (1972), La notion d’obstacle (1978), Les objets contiennent l’infini (1983) e Les natures indivisibles (1997), todas editados pela Gallimard. Organizou, juntamente com Emmanuel Hocquard, duas importantes antologias de poesia norte-americana: 21+1 poétes américains d’aujourd’hui (1996) e 49+1 noveaux poetes americains (1991). É também artista plástico. Está traduzido para o inglês, o grego, o espanhol, o dinamarquês, o italiano, o romeno, o galego, o sueco e o português, de Portugal e do Brasil. Fiz, há algum tempo, algumas traduções de seus poemas. Em Sibila n. 2 (2002), publiquei Naissance de la Préposition, trabalho ainda não recolhido em livro, por ele, na França, e por mim aqui.
A seguir, nossa conversa, mantida, por e-mail, em agosto e setembro deste ano. Uma “entrevista”, com uma regra: as respostas só poderiam ser dadas em uma só palavra. — Régis Bonvicino
Você acha que a poesia é hoje inútil?
Contrabanda!
Stéphane Mallarmé é um poeta vivo?
Vívido.
A poesia feita para a página do livro está superada?
Não.
Você acredita em poesia sonora?
Às vezes.
Você acredita em poesia eletrônica?
Às vezes.
Você ainda acredita em Marcel Duchamp?
Aos pedaços…
Existem diferenças entre prosa e poesia?
Sim.
Por que Mallarmé é um poeta vivo?
Exatidão.
Você gosta de Corbière, Laforgue e Verlaine?
Amarelo.
Matisse e Picasso estão vivos?
Fredrikson.
O que você entende por poeta vivo?
Vivo.
Você aprecia Dadá?
Tzara.
O que você pensa sobre o Surrealismo?
Nada.
O que pensa de James Joyce?
“Sim”.
E do Finnegans Wake em particular?
Stein.
Você acredita em pós-modernidade?
Yoop!
Você gosta de Francis Ponge?
Sílaba.
E de Ionesco?
Encrenca.
Beckett?
(Danielle) Collobert.
O que acha de Sartre, Deleuze, Lacan, Derrida etc. etc.?
Encore!
Você gosta de Edmond Jabés?
Muitíssimo.
Apollinaire é um poeta vivo?
(Louis) Zukofsky.
Diga uma palavra para René Char.
“résistant”.
A língua portuguesa é ininteligível?
Sensual.
Ela soa como se fosse polonês?
Não.
Existe algum movimento de vanguarda hoje em dia?
Brincadeira…
Existem bons críticos de poesia hoje?
Escondidos.
Você acha que há mais política literária do que crítica hoje?
Infelizmente.
Diga uma palavra para crítica acadêmica.
Desastre.
Diga duas palavras para Roland Barthes.
Luz/ Amor!
O que você detesta em poesia?
Aliteração.
Qual é a capital mundial da poesia?
Dicionário.
O que acha do dadaísmo nova-iorquino?
145123.
Você já leu Fernando Pessoa?
Pouco.
Você conhece Carlos Drummond de Andrade?
Sim.
É possível que alguém seja hoje um novo Ezra Pound?
Por quê?
Por que você se declara vazio?
(Sem) dinheiro.
Você aprecia espaços vazios?
Respiração.
Você ama as palavras?
Entre.
Você gosta de imagens?
Onde?
Anne-Marie Albiach?
Ardentemente.
Você apoia Mr. Bush?
Não.
O francês é uma língua minoritária?
Óbvio.
É possível ser Rimbaud hoje?
Ação!
Como você se sente no Museu do Louvre?
Animado.
Você gosta de museus?
(Da) calçada.
Cite dez poetas franceses contemporâneos?
Não.
Você acredita em Tristan Tzara?
Aproximadamente.
Você sabia que Blaise Cendrars viveu um tempo em São Paulo?
Piratininga.
O que você pensa sobre o trabalho de Blaise?
Admiração.
Diga uma palavra sobre Brancusi?
Uma.
Matisse seria possível nos EUA?
Não.
Você imagina uma pessoa fazendo poesia com pipocas?
Alguma.
Você pensa que Baudelaire é um poeta vivo?
(Pierre Jean) Jouve.
Zidane ou Ronaldo?
Ambos.
Uma loja ou um supermercado?
Ambos.
Branco ou preto?
Ambos.
O que você pensa sobre o punk rock e sobre Sex Pistols?
Pop.
Você acredita em pop art?
Sexo.
Você acredita em Andy Wharol?
Manhã.
Você acredita em Hollywood?
Tarde.
Você acredita em Jean-Luc Godard?
Sim.
Você gosta de Charles Aznavour?
Já!
Por que os poetas americanos se parecem com executivos ou vendedores?
Mentira!
Você gosta dos iraquianos?
Humano.
Você bebe Coca-Cola?
Pepsi!
Diga uma palavra sobre Salvador Dalí.
Outra…
Por que outra para Dalí?
Despreocupado.
Diga uma palavra sobre o poeta norte-americano George Oppen?
Luz.
E para Man Ray?
Preocupado.
E para Miró?
Gratidão.
E para García Lorca?
(Jack) Spicer.
E para Picasso?
“Picassc”.
Você acha que a Language Poetry é uma diluição de Gertrude Stein?
Incisão.
Você pensa que a Language Poetry é diluição da poesia concreta?
Não.
Diga uma palavra para a poesia concreta.
“oxigênio”.
Alguém aqui no Brasil disse que Tout Arrive de Dominique Fourcade é uma cópia de Galáxias de Haroldo de Campos? É mesmo?
Errado.
Diga uma palavra sobre Jacques Roubaud?
Essencial.
Diga uma palavra para Jaspers Johns?
Aliteração.
Uma para Tarsila do Amaral?
Léger.
Léger?
Amaral.
Você acha que os EUA estão sob uma ditadura hoje?
(Ainda) não.
Você acredita na democracia?
Sim.
Diga uma palavra para Borges?
Olho.
Diga uma palavra para Breton?
Solidão.
Diga uma palavra para a palavra.
Talvez.
Diga quatro palavras para Joaquim Du Bellay.
“ce grand espace vide”.
O que você acha do desconstrutivismo?
Fotogramas.
E sobre a Bauhaus?
Klee.
Qual foi a última vez que você leu Rimbaud?
Sexta-feira.
Quem merece duas palavras?
pauloleminski.
Quem merece três palavras?
Sintaxe.
Quem não merece nenhuma palavra?
Silêncio.