Entrevista de Arkadii Dragamoshchenko a Régis Bonvicino e Odile Cisneros
UMA VOZ VIVA DA RÚSSIA
Arkadii Dragomoshchenko nasceu em Potsdam (Berlim), em 1946, mas cresceu em Vinnitsa, Ucrânia. Estudou língua e literatura russa no Instituto Pedagógico de Vinnitsa antes de se mudar para Leningrado (hoje São Petersburgo), freqüentando, nesta cidade, o Instituto Teatral. Foi aí que começou sua carreira de jornalista, ensaísta e poeta, trabalhando também para o Teatro Estadual Smolensk e como guarda e caldeireiro. Durante os anos 1970 e 1980, começou a divulgar sua poesia através da revista “samizdat” Chasy, tornou-se membro do Club 81 (associação independente de artistas e escritores de Leningrado) e co-editou a revista “samizdat” Mitin Zhurnal.
Uniu-se ao Sindicato de Escritores em 1991. Publicou cinco livros de poesia, dois de prosa não ficcional e um romance. Traduziu poesia contemporânea norte americana, incluindo, Charles Olson, Robert Creeley, John Ashbery, Michael Palmer e Susan Howe. Tem três livros de poesia traduzidos para o inglês, Description, Oxota e Xênia, pela poeta norte-americana Lyn Hejinian, com quem também manteve um importante intercâmbio nos anos oitenta. Dragomoshchenko leciona também na Universidade de São Petersburgo, onde reside.
Foi professor visitante nos EUA em locais como Northwestern University, SUNY Buffalo, e New York University, entre outras. É considerado um dos poetas russos atuais mais inovadores. Esta entrevista foi realizada em Nova York, em janeiro de 2003, quando ele participou de um evento de poesia “Masterpieces of the Russian Underground”, organizado pela Chamber Music Society of Lincoln Center. Régis Bonvicino enviou suas perguntas por correio eletrônico.
Odile Cisneros
Sibila: Você está aqui em Nova Iorque para participar de um evento de poesia apresentado sob a rubrica “Estrelas do último underground soviético”. O termo underground tem sido utilizado a partir dos anos 1960 para designar uma literatura samizdat, que era autofinanciada na União Soviética ou levada como contrabando ao estrangeiro para ser publicada lá durante os anos de repressão do regime vigente. Você pode falar da situação dos poetas de sua geração e suas experiências na Rússia antes da queda do regime?
Arkadii Dragomoshchenko: Primeiramente, devo dizer que existem muitos lugares na paisagem literária da Rússia, mas os principais são Moscou e São Petersburgo. Algumas pessoas vieram da Sibéria, mas o lugar mais importante pertence a estas duas cidades. Falemos então de São Petersburgo. Há um grupo de poetas como Elena Shvarts, Viktor Krivulin, Sergei Stratanovsky, Alexander Moronov, que eram amigos, que se conheciam desde a infância porque seus pais eram próximos. E eles mudaram verdadeiramente a situação de nossa poesia. Por um lado, eles foram influenciados pela chamada Era de Prata e a poesia de Óssip Mandelstam e Ana Akhmátova, porque Akhmátova ainda estava viva quando eles começaram suas carreiras. Havia também um círculo de “Órfãos de Akhmátova”, liderado por Joseph Brodsky, que começou a criar uma poética. Nesta mesma época, Aleksiéi Kruchônikh, Nicolai Zabolótsky estavam presentes. Então, Elena Shvarts, Viktor Krivulin, Sergei Stratanovsky e Alexander Moronov começaram a fundir tais experimentos formais de Kruchônikh, com sua própria expressão e se tornaram independentes, até certo ponto. Eles produziam uma poesia complicada, com imagens complicadas, mas o que procuravam era uma solução para antigos problemas. Voltaram-se para um tipo de mitologia, não exatamente mitologia, mas uma ortodoxia e a exploraram em suas formas mais profundas como a possibilidade de explorar a própria experiência. Mais tarde, nos anos setenta e oitenta, vieram poetas como Alexei Parshchikov, Ilya Kutik, Alexander Eremenko e Ivan Zhdanov, que veio da Sibéria, e outros. Seu trabalho era rico em expressão metafórica e se transformaram em algo parecido com a Language Poetry dos Estados Unidos, porque trabalhavam muito com a língua, porque a língua se abre e é só questão de ajudá-la a se abrir e ver para onde ela nos leva. É um modo heideggeriano de entender a língua como estando no centro do ser. Aí, depois, Parshchikov partiu para Alemanha, Zhdanov foi embora para o sul da Ucrânia, Ilya Kutik virou professor em Chicago… Essa é a história desse grupo. Há poetas mais novos, tais como: Alexandr Skidna, Dmitri Golynko-Volfson, Sergei Zavialov e Vladimir Kucheriavkin. Em Moscou, havia um outro grupo de poesia chamado Babylon (www.vavilon.ru). Havia Dmitrii Kuzmin, que começou um projeto de publicação de poesia, uma nova editora de poesia jovem de poetas de 20 a 25 anos. Polina Barskova mora agora em Berkeley. Depois temos a Shulpiakov, Kukulin, Dmitrii Vodennikov, Elena Fanajlova, em outra seara. Este é um apanhado superficial dos poetas russos atuais.
Sibila: Isto tudo evidentemente mudou com a queda do Muro de Berlim e a desintegração da União Soviética. Tem ainda sentido usar a palavra underground? Sua poesia ainda retém algumas das mesmas caraterísticas ou agora você está trilhando novos caminhos?
AD: Não, não tem sentido nenhum usar o conceito underground. Ele valeu para aquele período de luta e resistência contra a censura do regime. Todavia, o poeta não é um político, não é um prosador. Desta perspectiva, podemos dizer que todo e qualquer poeta é underground. Mas esta palavra veio da música, do rock. Mesmo os poetas beats norte-americanos, como Allen Ginsberg, nunca foram chamados de poetas underground.
Sibila: Você acha que sua poesia mudou com as transformações políticas e sociais que ocorreram?
AD: Minha poesia nunca mudou, ou mudou, mas em si mesma. Teve sua própria evolução. Mudou porque eu envelheci e mudou alguma coisa em minha mente. Mudaram minhas possibilidades de recepção, minhas possibilidades de expressão. Mudei minha expressão e vocabulário. Não porque alguém me pediu para mudar de uma certa maneira ou de outra.
Sibila: Melhorou a situação da poesia e dos poetas da ex-União Soviética? Em alguns lugares, por exemplo na Checoslováquia da pós Revolução de Veludo, muitos artistas se queixaram que a nova liberdade de expressão teve repercussões mistas. Em outras palavras, durante os anos de censura e repressão, os artistas e escritores não só encontraram inspiração para seu trabalho na luta contra o poder, mas também desenvolveram maneiras mais criativas de resistir e sobreviver dentro do sistema.
AD: Sim, os artistas ficaram órfãos. Esse não é meu caso, mas a maioria de minha geração tem “saudades” da repressão. Como você sabe, Freud disse que a repressão produziu a cultura. É uma máquina de cultura, a repressão.
Sibila: Atualmente, como é a situação da poesia na ex-União Soviética? Existem muitas publicações e poetas ativos? É difícil publicar poesia em revistas ou livros?
AD: Há muitas publicações, folhetos, pequenas editoras. Às vezes há um grande editor, um editor de não-ficção, publicações sérias não comerciais. Novoe literaturnoe obozarenie [Nova revista de literatura] publicou uma coleção de poesia com uns 15 livros. As pessoas compram livros de poesia. Então, para mim, não é difícil publicar. O que você tem que fazer é escrever!
Sibila: Há um debate sobre a poesia e muitos leitores?
AD: Sim, há bons críticos, mas não com muita profundidade, mas eles escrevem em toda parte. Inclusive, as resenhas e os catálogos de livros contém uma certa quantidade de crítica. Também há muitos jornais dedicados aos livros: Book Time, Book Review, Ex Libris. Há um debate.
Sibila: O que você acha dos pré cubofuturistas e futuristas como Vielímir Khlébnikov e Vladímir Maiakóvski, que se tornaram muito conhecidos na América Latina, especialmente o segundo depois da Revolução Cubana? O que você acha de Aleksiéi Krutchônikh?
AD: Não gosto muito de Khlébnikov, mas acho que sua prosa é muito mais poética do que sua poesia. Gosto de Krutchônikh, gosto dele como fenômeno mas não o leio muito. Prefiro o grupo de São Petersburgo (Vvedensky, Harms, Oleinikov, Nicolai Zabolótzki), a poesia da “Arte Real”, como eles se autodenominaram. Mas, na verdade, eu não leio muita poesia.
Sibila: E o que você acha de Boris Pasternak, Óssip Mandelshtam, Marina Tsvetaieva?
AD: Fizeram muito por nós. Mandelshtam foi muito interessante para mim, muito mais do que Pasternak. Não sei se gosto muito de Tsvetaieva, por causa da emoção. Gosto de uma poesia mais “fria”.
Sibila: E os mais recentes e famosos como Guenadi Aigui, Ievguêni Ievtuchenko, Andriéi Voznesensky?
AD: Ensinei a poesia de Aigui na universidade. Uma estudante de Bard College em Nova Iorque me pediu que fosse seu orientador e trabalhamos juntos em várias traduções de Aigui. E quando comecei a trabalhar com ela, comecei a ler Aigui de novo e me pareceu muito interessante e difícil de traduzir, porque muitas coisas estavam escondidas nas palavras, na linguagem. Ele é muito astuto, muito inteligente. Ievtuchenko – até o conheci pessoalmente – ele é muito inteligente e muito engraçado, mas não estou interessado em sua poesia.
Sibila: Como você vê o diálogo entre os poetas russos e poetas de outros países e línguas, por exemplo dos Estados Unidos?
AD: Posso dizer que no final dos anos oitenta e início dos noventa tive contato com os Language Poets, éramos parecidos. Gosto da chamada Language Poetry, porque a Language Poetry agora pertence à história. Não conhecíamos o nome “Language”, mas conhecíamos nomes como Lyn Hejinian, Michael Palmer e, até certo ponto, Michael Davidson. Eu os traduzi e obtive muitas coisas do trabalho deles. E eles me traduziram para o inglês e também obtiveram alguma coisa de mim. Houve uma troca.
Sibila: Existem outros poetas russos que fazem a mesma coisa, ou que dialogam com outras línguas? A França tem muita influência?
AD: Não, não tenho certeza. Temos uns 4 ou 5 escritores que traduziram filosofia francesa contemporânea, mas não poesia. Filósofos como Derrida, Blanchot, Julia Kristeva, crítica e prosa, não poesia. Eu conheço a poesia francesa mais através das traduções para o inglês, porque não falo francês.
Sibila: De quais línguas você já traduziu? Você já foi traduzido para muitas línguas.? Quais?
AD: Traduzi Michael Palmer. Também fiz um pequeno livro de John Ashbery. Traduzi Charles Olson, o seu Kingfisher. Traduzi também Eliot Weinberger.
Sibila: A antiga poesia underground russa era quase um sinônimo para “poesia política”, mas esta “politização” da poesia, segundo alguns críticos, não foi intencional, mas o resultado da repressão das autoridades contra eles.
AD: Sim, exatamente. Havia poetas que eram poetas oficiais; eles eram publicados, eram pagos. Certos poetas não queriam publicar porque diziam que a publicação era um veículo da máquina ideológica e, portanto, não publicavam. Eles viraram a “cultura extra-oficial”.
Sibila: Agora que desapareceu a repressão, você acha que os poetas atuais são ainda políticos? Fale um pouco do engajamento de poetas como você na situação política de seu país, assim como a do mundo.
AD: Não, na maioria, os poetas não são políticos. Sou político quando penso em todos os desastres do mundo, mas não quando me sento para escrever um poema. Posso escrever sobre a atual situação da globalização e os problemas que surgem dela, mas isto não é poesia; é jornalismo, é parte de meu trabalho como jornalista.
Sibila: Falando de jornalismo, com a difusão da mídia e da cultura popular, como você vê o futuro da poesia e o papel dela nesse contexto? Você é otimista ou pessimista?
AD: Acho que tem um bom futuro. As pessoas vão continuar escrevendo poemas e algumas pessoas vão continuar lendo poemas. Mas quando você fala da mídia, esse é um assunto completamente diferente. Trata-se de um mercado.
Sibila: Você acha que a poesia deva ficar fora do mercado, um espaço livre e de resistência à comercialização?
AD: Sim. Não é um produto comercial. Você, no entanto, pode torná-la num produto comercial, mas você tem que ser muito rico e muito esperto! Irina Prohorova é dona e publisher de NLO, uma casa comercial, que tem publicado poesia durante 25 anos, livro atrás de livro, edições belíssimas, mas não são livros para o mercado. Muitas pessoas nem sabem que existem tais edições. São edições para bibliotecas, estudantes etc.
Sibila: O que você sabe da situação da poesia na América Latina?
AD: Sei que há excelentes poetas e importantes tradições. Conheço Octavio Paz e Pablo Neruda. Mas o que é mais interessante é que eles pertencem a uma cultura indígena, não apenas às literaturas hispânicas. Como os brasileiros, que pertencem também à tradição lusófona mas igualmente à indígena. São uma mistura muito peculiar e muito interessante. Acho que aí há um bom futuro.
REIMAGINANDO DRAGOMOSHCHENKO
Senti-me mais ou menos autorizado a pensar Arkadii Dragomoshchenko em português porque sou o tradutor de Michael Palmer e Palmer, além de ser seu interlocutor, o traduziu para o inglês. E Arkadii, como informa a nota que abriu sua entrevista para Sibila, o traduziu para o russo. Parti, para elaborar este trabalho, das traduções para o inglês feitas por Lyn Hejinian (norte-americana de origem russa, que reaprendeu russo com Dragomoshchenko, por meio do trabalho de tradução recíproco); Hejinian é amiga de Arkadii e de Michael, de quem, aliás, é vizinha em San Francisco, Califórnia.
É evidente que este trabalho não aspira a nada – a não ser a mostrar, com alguma decência poética, umas poucas linhas do entrevistado em português, para não ficarmos só na fantasia da teoria. Linhas de grande força construtiva e, ao mesmo tempo, de surpreendentes e originais saídas imagéticas. A iniciativa da entrevista foi de Odile Cisneros, que, além de ter formulado a maior parte das perguntas, igualmente “checou” minhas versões, para a “última flor do Lácio”, com o próprio autor, assegurando-me de algumas soluções e licenças. (Cisneros fez algumas poucas sugestões para os textos em português, que adotei, como cidade dos tentáculos para branching city). Por exemplo, neste sentido, das licenças, verti knees (joelhos) por pés, no poema “To speak of poetry” (“Para falar de poesia”), visando a encutar o verso e a manter as consonâncias obtidas por Lyn: “The bee-bread dries your lips, dusting your knees”. Em português ficou assim: “A pétala-da-abelha seca seus lábios, pó em seus pés”. Mas acho que perdi feio para a solução hejiniana! Foi, no entanto, a entrevista, uma rara oportunidade de se ouvir uma voz atual da Rússia, debatendo sobre seus próprios e magníficos pares e nos trazendo informações que aqui não temos, a não ser, várias já todas quase do passado, no brilhante e pioneiro Poesia Russa Moderna. Este conjunto, entrevista mais poemas, reafirma o propósito de Sibila de alargamento dos horizontes poéticos brasileiros, horizontes um tanto fechados; reafirma seu propósito de diálogo e compromisso com a inovação! Os poemas que ora aqui reimaginei foram retirados do livro Xenia, traduzido por Hejinian e Elena Balashova, Los Angeles, Sun & Moon Press, 1994, e são eles “Now for the Story” e “To speak of poetry”.
Régis Bonvicino, setembro de 2003.
PARA A ESTÓRIA
Para a estória da cidade dos tentáculos, agora. Complexidade não significa soma infinita. Proto-percepção de sonhos. A multidão está amotinada (o quanto mais de dinheiro me der, tanto mais o terei – e para quê você precisa dele?). Este ramo álacre se projeta no ar: atenção. E também o estilo epistolar, exaustivo, seguindo trilhas, (você está falando de mim? anteontem você me disse que precisava de mim para experimentar-se através de mim) desviando-se de possíveis sinais, nossa própria presença. Khliébnikov – as ruínas de nunca-erguidas construções ciclópicas. Enxame de estrelas na transparência absoluta de sujeito e objeto. Sussurro de uma pedra caindo, depressa. Vagarosamente, curvo-me, diante de você. O talude está aberto ao vento sul. O que para você é apenas um momento, para mim é um milênio, aumentado pelo tempo. Paciência? Presságio fadado a não responder questões sobre a morte – não para aflorar no cérebro da matéria. Lenta oxidação, mas também o método epistolar, alcançando um excedente inadmissível: interrup/secção, não fornecendo o sentido perseguido de conclusivo, em qualquer ponto da névoa, despertando a noite com ex. O que distingue uma “Sentença” de uma “frase”? Procure no dicionário, você diz. Procure no dicionário e ela, palavra, está se tornando palavra que infinita se aproxima de uma voz que se dissipa. Como a neve na estória da cidade dos tentáculos. Me aproximo, quase, dela e diante de mim a mais fina gotícula revela o fuso horário da China. Atrás da cortina há neve. Não. Um corvo, ignorando a perda. Em vez de, para se tornar mais próximo, abrindo – ele se afasta, até desaparecer completamente, além das fronteiras da frase.
PARA FALAR DE POESIA
Falar de poesia é falar do nada
ou possivelmente de algumas raias externas
(onde a língua se devora)
discernindo ou determinando um desejo
penetrar este nada, uma lei, um olho
para encontrá-lo em si mesmo, presente em nada
Impossível!
A morte não pode ser trocada por outra coisa.
Sinceridade – é o processo insaciável
de transição, de flutuação, em sentido oposto,
ou seja, eu-te-amo-não-te-amo
desaparece à beira da consciência
Não há mais tempo para a expressão
Eliminada pela simultaneidade
Onde achar um homem dançando como uma vela?
Escute, como o segundo milênio
a água avança sobre as margens – algas
A pétala-da-abelha seca seus lábios: pó em seus pés
seus quadris e ombros expostos
Lembro-me do tempo quando a lâmpada de querosene
noite fria o lilás brilhava verde, como um nervo
O halo da chama do querosene, um hemisfério esmeralda
atraía mariposas do escuro.
O arco zênite de agosto, uma foice estrelada,
revelando os traços honestos da matéria,
pálpebras rasgadas.
Uma tela e letras, esta é a estória,
arquivo pulsante do nadir e nele, como a queima
de mariposas,
a descrição da noite aparece. Os ramais
do jardim pegam fogo,
campos magnéticos de palavras aparecem, tensos,
entrelaçados ao nada. O que mais posso falar!
O que mais dizer?
Deslizando dentro de você, no delta no meio do rio
abrindo-se, como um arco,
cuja corda está corroída
pelo silêncio.
Reimaginações: Régis Bonvicino