No eras tú, muerte grave, ave de plumas férreas,
Não eras tu, morte grave, ave de plumas férreas,
la que el pobre heredero de las habitaciones
a que o pobre herdeiro das casas
llevaba entre alimentos apresurados,
levava entre alimentos apressados,
bajo la piel vacía:
sob a pele vazia:
era algo, un pobre pétalo de cuerda
exterminada:
era algo, uma pobre pétala de corda
exterminada:
un átomo del pecho que no vino al
combate
um átomo de tórax que não veio ao
combate
o el áspero rocío que no cayó en la
frente.
ou o áspero orvalho que não caiu no
rosto.
Era lo que no pudo renacer, un pedazo
Era o que não podia renascer, um pedaço
de la pequeña muerte sin paz ni
territorio:
da pequena morte sem paz nem
território:
un hueso, una campana que morían
um osso, um sino que morriam
en él.
nele.
Yo levanté las vendas del yodo,
Eu levantei as vendas do iodo,
hundí las manos
mergulhei as mãos
en los pobres dolores que mataban
nas pobres dores que matavam
la muerte,
a morte,
y no encontré en la herida sino una
e só encontrei na ferida uma
racha fría
rajada fria
que entraba por los vagos intersticios
que entrava pelos vagos interstícios
del alma.
da alma.
ALTURAS DE MACHU PICHU, VO poeta chileno Pablo Neruda (1904-73), ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1971, morreu num 23 de setembro, em Santiago, oito dias após o golpe desfechado por Augusto Pinochet contra o Governo da Unidade Popular de Salvador Allende e do falecimento/suicídio deste. A notícia da morte de Neruda correu de boca em boca por Santiago. Quem ousaria, com aqueles tiroteios nas ruas e com os cadáveres jogados nas calçadas e sarjetas, ir aos funerais de Neruda? Muitos foram. Quando o caixão deixou o velório, a caminho do cemitério, a multidão foi se achegando ao redor do féretro: murmurava versos da “Canção desesperada”, sobretudo, a estrofe “Abandonado como um cais ao amanhecer/ É hora de partir, oh abandonado!”. Pouco depois, Pinochet mandou destruir os livros de Neruda e também parte das obras de arte que se encontravam em La Chascona, a residência do poeta.
Entre as obras de Neruda, poeta prolífico, destacam-se: Crepusculário (1924), Veinte poemas de amor y una canción desesperada (1924), Residencia en la Tierra I (1935), Residencia en la Tierra II (1935), Canto general (1950), Canción de giesta (1960), Las piedras de Chile (1961), Cantos ceremoniales (1961), Fin de mundo (1969), Aún (1969), Incitación al nixonicidio y alabanza de la Revolución Chilena (1973) e o póstumo Confieso que he vivido (1974).