Os Estados Unidos são a grande potência mundial, desde o fim da Segunda Guerra, condição reafirmada, em 1991, com a extinção da União Soviética. Falar então de uma “poesia das Américas” é, em certa medida, falar de uma poesia da centralidade. Os ganhos advindos da força de seu capitalismo projetaram seus poetas no mundo todo. Deu-se a inversão prática dos fluxos: a poesia norte-americana passou a influenciar e a alimentar as várias poesias da Europa e – em escala menor – da América Latina. Num mecanismo de retroprojeção, os Estados Unidos exportaram o seu modernismo (Objetivismo, Imagismo, Gertrude Stein) para a Europa e fascinaram as outras Américas.
No entanto, por isso mesmo, a centralidade da poesia das Américas deve ser historicamente entendida como, sobretudo, norte-americana. Não há poetas brasileiros ou poetas hispano-americanos que tenham influenciado a poesia estado-unidense. Aliás, esta é, na prática, até onde posso avaliar, autorreferente. Com a exceção notável de Ezra Pound, poucos de seus poetas fizeram do diálogo, com a tradição ocidental, o núcleo de sua composição. A L=a=n=g=u=a=g=e Poetry é, por exemplo, fenômeno exclusivamente norte-americano, sem qualquer demanda externa, em termos constitutivos.[1] Há, nesse movimento, ao que me parece, influências europeias que já se encontravam presentes na própria tradição de vanguarda americana. Em sentido oposto, dois poetas norte-americanos foram, entretanto, centrais para a Poesia Concreta: Ezra Pound e e. e. cummings, além de Stéphane Mallarmé, James Joyce, a Bauhaus alemã etc.
Mas há casos em que o antiamericanismo, ou ao menos o sentimento de resistência aos Estados Unidos, pretende ser o elo perdido na aproximação de certos blocos sul-americanos. Em geral, esse tipo de ligação por reação resultou mal, como no caso do chamado boom latino-americano, mais folclórico e turístico do que politicamente comprometido e literariamente relevante.
Há outras tentativas de aproximação entre os hispânicos e brasileiros, como o neobarroco, ou neobarroso, que pretendeu ligar a poesia das regiões platinas. Em boa parte, entretanto, era artificioso em relação às próprias tradições latinas, e falacioso, se não ingênuo, em relação aos modelos decididamente europeus do barroco histórico.
2. O poeta brasileiro Oswald de Andrade (1890-1954) pretendeu romper com o colonizador português e propôs, em sentido amplo, a colonização de todo os colonizadores: “Dividamos. Poesia de importação. E a Poesia Pau Brasil” (“Manifesto da Poesia Pau Brasil”, 1924). O mecanismo antropofágico, conceituado em 1928, e expresso no “Manifesto Antropófago”, seria o filtro “nacional” para a leitura do que viesse de fora e o instrumento que permitira gestar uma nova poesia – distinta, nova, “de exportação”. Isto, que foi dito diretamente para o colonizador português, também se supunha aplicável aos Estados Unidos (“Contra todos os importadores de consciência enlatada” – referindo-se igualmente às manufaturas, no mencionado “Manifesto Antropófago”). E não lhe faltam argumentos históricos para a proposição. Observa o historiador inglês Norman Davies que a história da expansão dos Estados Unidos pela América do Norte, depois de sua independência, e o estabelecimento de colonos brancos em terras dos nativos (índios) americanos, mal se distingue da história da expansão das potências europeias pela Ásia, África, Austrália e América do Sul.[2]
3. Tais observações básicas me levam a crer que “poesia das Américas” é uma esperança, uma semente de utopia, mas cuja unidade, paradoxalmente, quando se formula, introduz necessariamente o ovo da serpente ideológica. Formulada nos termos de Charles Bernstein, entendo-a como um ecumenismo benigno, como uma tentativa civilizatória de domar a selvageria globalizada, cujo efeito mais direto, para a poesia, seria pôr seus poetas em contato. Mas, sem querer mostrar um ranço reativo, ou recusar a esperança que se esboça aqui, pensemos um pouco mais nas diferenças supostas nesse plural problemático, Américas, e não América.
O traço colonial e, depois, o da dependência econômica, une todas as culturas das Américas, exceto a dos Estados Unidos. Os modelos literários latino-americanos são europeus. O que não basta sequer para postular uma unidade entre esses países. Isto é evidente de muitos pontos de vista, mas me contento em explicitar um deles, a meu ver decisivo: o surrealismo pautou as literaturas hispano-americanas, o que não ocorreu jamais com a brasileira, de vocação mais construtivista, exceto em um ou outro poeta de primeira plana, como Murilo Mendes.
4. Como sabem todos, a América Latina sofreu na mão de ditadores sangrentos, apoiados pelo governo americano, como o general Augusto Pinochet (Chile), o que desestruturou a difícil construção da democracia no continente. O pós-guerra para todos os não norte-americanos foi marcado justamente pelo intervencionismo norte-americano, que, por vezes, fora da política, estimulou rumos poéticos muito próprios, com perfis definidos e diversos da poesia americana.
Se um norte-americano falar em “poesia das Américas” a um hispano-americano ou a um brasileiro, mesmo contra a sua vontade, estes se verão pensando ceticamente se a ideia não será algum serviço cultural subsidiário da Doutrina Monroe. Não estranhem. Há razões para o ceticismo. Tão logo se tornaram independentes em 1776, os Estados Unidos adotaram o mecanismo de expansão do colonizador europeu, anexando parte do México e da América Central. Esse fenômeno não ocorreu, a não ser em casos restritos de disputas fronteiriças, em qualquer outro país do continente. É evidente que esses desequilíbrios políticos e culturais dificultam bastante o diálogo, que se forja nas frestas, por poucos poetas, sem se configurar ainda como uma “poesia das Américas”.
Não existe unidade histórica ou cultural entre os blocos – a não ser no plano mítico. O traço colonial e, depois, o da dependência econômica, une todas as culturas das Américas, exceto a dos Estados Unidos.
5. Portanto, insisto, inexiste uma identidade poética das Américas. No Brasil nem sequer usamos a expressão “Américas”. O continente parece dividido, de uma vez por todas, em três blocos: Estados Unidos e Canadá, América hispânica (México, Caribe e América do Sul) e Brasil – o único país que fala o português.
Mas os três blocos são muito mais do que três. São muitas as identidades americanas, evidentemente irredutíveis a uma unidade, e, mesmo, com pouca experiência de diálogo igualitário entre elas. Claro, permaneço mantendo no horizonte o ecumenismo da proposição de Bernstein como uma alternativa civilizada de convivência e incremento da cultura, mas, de alguma forma, considero-a – historicamente – imponderada. Como afirma o italiano Cesare Pavese (1908-1950), uma cultura que não implique esforços, que não seja trabalho vivo, não significa nada. O intento de Bernstein não será – imagino – perdido.
Digo isso tudo sem vitimizar o Brasil ou sua literatura. O Brasil está entre as dez maiores economias do mundo há duas décadas, representa 47,7% do território sul-americano e 20,8% do das Américas. Produziu alguns dos maiores e mais originais escritores do mundo, como Sousândrade (1833-1902), Augusto dos Anjos (1884-1914), Machado de Assis (1939-1908), Lima Barreto (1881-1922), Oswald de Andrade (1890-1954), Guimarães Rosa (1908-1967), Clarice Lispector (1920-1977), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Murilo Mendes (1901-1975), João Cabral de Melo Neto (1920-1999), Raul Bopp (1898-1984), o movimento da Poesia Concreta nos anos 1950 e 1960 (Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Augusto de Campos) etc. O Brasil forjou igualmente uma singularidade cultural rica e diversa, que talvez só seja igualada pela norte-americana ou pela cubana.
Isto me leva a preferir dizer que existem poetas ímpares nas Américas, mas não há uma poesia das Américas. Nessa direção, deixo a todos uma lista de poetas das três Américas que foram e são importantes para mim:
Uruguai: Eduardo Milán, que reside há trinta anos no México; Chile: Vicente Huidobro (1893-1948), Gonzalo Millán (1947-2006), uma descoberta recente, e os mais novos Felipe Cussen e Andrés Ajens; Argentina: Oliverio Girondo (1891-1967) e Jorge Luis Borges (1899-1986), que conheci pessoalmente; Peru: Cesar Vellejo (1892-1938) e os contemporâneos Rodolfo Hinostroza e Antonio Cisneros; Cuba: Nicolas Guillen (1902-1989), Mariano Brull (1891-1956) e os contemporâneos Rolando Sánchez Mejias e Pedro Marqués de Armas; México: Octavio Paz (1914-1998); Estados Unidos: Ezra Pound, e. e. cummings, William Carlos William, George Oppen, John Cage, Robert Creeley (um grande interlocutor, que me abriu horizontes), Allen Ginsberg, Gregory Corso, Paul Blackburn e o prosador Truman Capote, de In Cold Blood; há um músico negro americano que foi decisivo para mim: Jimi Hendrix; entre os contemporâneos, cito Douglas Messerli e Charles Bernstein, com os quais mantenho um longo e permanente diálogo, e a crítica literária Marjorie Perloff; dialoguei também com Michael Palmer; Brasil: Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto, Oswald de Andrade, Mário Faustino (1930-1960), Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos (1929-2003), Torquato Neto (1944-1972) e Paulo Leminski (1944-1989); mantive contato pessoal com Caetano Veloso, entre o final dos anos 1970 e o começo dos 1980, que me marcou; entre os contemporâneos, citaria Nelson Ascher (divergências ideológicas nos separaram); e, entre os mais novos, tenho apreço por Josely Vianna Baptista, Luis Dolhnikoff, Ronald Augusto, Sérgio Medeiros, Douglas Diegues e outros. Não poderia deixar de mencionar o crítico literário Alcir Pécora.
PS.
Odile Cisneros lembra, relativizando tanto minha tese central, neste texto, quanto a de Charles Bernstein (no sentido de que não há muita novidade no tema), que houve diálogo entre poetas das Américas e observa que o nicaraguense Rubén Darío (1867-1916) e o cubano José Martí (1853-1895) leram e admiraram Walt Whitman. O poeta brasileiro Mário de Andrade (1893-1945) anotou no manifesto “Prefácio interessantíssimo”, do livro Pauliceia desvairada (1922), que lançou a poesia moderna no Brasil, o seguinte: “Você já leu Walt Whitman? ou Mallarmé?”. Cisneros fala na existência de um espírito pan-americano. A presença de Whitman na poesia hispano-americana, diz ela, seria um bom tema para um livro. O poeta brasileiro Ronald de Carvalho, acrescenta Cisneros, escreveu Toda a América, publicado em 1926, que foi traduzido para o espanhol por Francisco Villaespesa e publicado em 1935, com irradiação em toda a América de fala hispânica. Octavio Paz influenciou poetas como Robert Duncan e Denise Levertov, conclui a Professora de Edmonton. É bastante pertinente a lembrança feita por ela do livro Toda a América, de Ronald de Carvalho (1893-1935). Carvalho, além de ter participado da Semana de Arte Moderna de 1922, foi o único poeta brasileiro que travou contato com Fernando Pessoa (1888-1935) e Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), chegando a publicar na revista Orpheu (1915), dirigida por estes dois poetas portugueses, verdadeiros gigantes de toda a poesia de língua portuguesa. Carvalho estabeleceu-se em 1914 em Lisboa como diplomata e retornou ao Brasil em 1919. Transcrevo trecho de um ensaio de Antonio Donizeti da Cruz intitulado “Identidade e alteridade em Toda a América, de Ronald de Carvalho: a vinculação do local e do global”: “A América – nas palavras de Octavio Paz – é a “súbita encarnação de uma utopia europeia. O sonho se torna realidade, presente; um agora que está tingido de amanhã. A presença e o presente da América são um futuro […]. Seu ser, sua realidade ou substância consiste sempre em ser um futuro, história que não se justifica no passado, mas no porvir. […] A América não foi; e ela só é se é utopia”. Deixo aqui a estrofe final do poema “Broadway”, de Carvalho: “Chão épico, chão lírico, chão idealista,/ chão indiferente de Broadway,/ largo, chato, prático e simples no ar, este/ roof liso, suspenso no ar, este roof, onde um/ saxofone derrama um morno torpor/ de senzala do sol”. Para Octavio Paz, o diálogo aponta para a pluralidade e o monólogo, para a identidade, e conclui: “A poesia sempre foi uma tentativa de resolver essa discórdia através da conversão dos termos: o eu do diálogo no tu do monólogo. A poesia não diz: eu sou tu; diz meu eu és tu. A imagem poética é outridade”. Eis o link do ensaio de Antonio Donizete da Cruz: http://www.ucm.es/info/especulo/numero38/rcarvalh.html.
Como mais um subsídio sobre Toda a América, deixo também este link: http:// www6.ufrgs.br/seermigrando/ojs/index.php/NauLiteraria/article/viewFile/5825/3429.
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[1] Charles Bernstein observes regarding my argument on the U.S. centeredness: “This is true in a general way, but it misses lots of details. Rothenberg/Ethnopoetics (including for example Clayton Eshleman) were committed to influence from outside U.S., both from ‘fourth world’/indigenous in Rothenberg’s case to South American poets/poetry; the culmination being Rothenberg’s Poems of the Millennium; so he’d be a crucial addition to your list, it seems to me and important corrective to Pound’s approach to internationalism. Our small circle at L= in New York were deeply affected by the Russian Futurists, for example (whose work was just emerging in the 70s) and we also were thinking of the connection of various European avant-gardes, specifically to move outside of the insular U.S. centered traditions (Duchamp, Dada, Surrealism, Concrete and Visual Poetry, French poetry). And there has been throughout the history of radical poetics of the U.S. a deep exchange with French poetry and between poets. Of course you are leaving out the relation of U.S. poetry to British poetry. It’s fair to say at least in the 70s and 80s the North-South connection was far less significant (though of course that has radically shifted in the last decade or two) for those around L=. But also any number of specific poets in the 20th century there would be connections/influences outside the U.S., though the centripital force of U.S.-centeredness is very powerful as has been the ideology of putting out foreign influences”.
[2] Norman Davies, Europa na Guerra (1939-1944), Editora Record, Rio de Janeiro, 2009.
The Improbable Poetry of the Americas
Since the end of World War II, the United States has been the world’s superpower, a condition that was confirmed in 1991 with the demise of the Soviet Union. To speak, then, of a “Poetry of the Americas” is, to a certain extent, to speak of a poetry of centrality. The advantages achieved by the force of American capitalism have given American poets worldwide visibility. The usual cultural flow was inverted: American poetry came to influence and nourish the various poetries of Europe and—to a lesser extent—of Latin America. Through the opposite mechanism, the United States exported its modernism (Objectivism, Imagism, Gertrude Stein) to Europe and fascinated the other Americas.
However, for that very reason, the centrality of the poetry of the Americas must be historically understood, above all. There are no Brazilian poets or Spanish American poets who have influenced American poetry. In fact, America poetry, in practice, as far as I know, is self-referential. With the notable exception of Ezra Pound, few American poets made dialogue with the Western tradition the focus of their writing. L=A=N=G=U=A=G=E poetry, for example, is an exclusively American phenomenon that did not have the need of any external avant-garde influences in order to constitute itself.[1] In L=A=N=G=U=A=G=E poetry there are European influences that were already present in the tradition of the American avant-garde. In the opposite direction, two American poets were, on the other hand, crucial for Brazilian concrete poetry: Ezra Pound and e. e. cummings, besides Stéphane Mallarmé, James Joyce, the German Bauhaus, etc.
But there are cases in which anti-Americanism, or at least a sentiment of resistance against the United States is a sort of missing link in the way certain South American Blocs came together. In general, this kind of alliance by reaction was unsuccessful, as in the case of the Latin American boom, a movement that was more folksy and touristy than politically committed and relevant in literary terms.
There have been other attempts at rapprochement between Spanish Americans and Brazilians, as is the case of the Neobaroque or “Neobarroso,” which tried to link the poetry of the River Plate regions. It was, however, artificial in relation to Latin American traditions themselves, and fallacious if not naïve in relation to the clearly European models of the historical baroque.
2. The Brazilian poet Oswald de Andrade (1890-1954) attempted to break with the Portuguese colonizer and proposed, in broad terms, the colonization of all colonizers: “Let us divide. Imported poetry. And Brazilwood Poetry” (“Brazilwood Poetry Manifesto,” 1924). The cannibalist mechanism devised in 1928 and expressed in the “Cannibalist Manifesto,” would be the “national” filter used for reading materials coming from abroad and the instrument that would allow a new poetry to be forged—a new and different “poetry for export.” These words, uttered directly to the Portuguese colonizer, were assumed to be applicable to the United States as well (“Against all the importers of canned conscience”—also referring to manufactured items in the mentioned “Cannibalist Manifesto”). And there’s no dearth of historical arguments for this proposal. The British historian Norman Davies observes that the history of the expansion of the United States across the North American continent following its independence and the settlement of white colonizers in the lands of Native Americans hardly differs from the expansion of European powers in Asia, Africa, Australia, and South America.[2]
3. These basic observations lead me to believe that a “poetry of the Americas” is a hope, a utopian seed, but whose unity, paradoxically, when formulated, necessarily introduces the egg of an ideological serpent. Formulated in Charles Bernstein’s terms, I understand the concept as a benign ecumenism, as a civilizing attempt to tame globalized savagery, whose most direct effect for poetry would be to put poets in touch with each other. But without wanting to show a rancorous reaction or reject the hope that is being drafted here, let us think a bit more about the differences that this problematic plural, Americas (and not America), entails.
The colonial trait, and then that of economic dependency, unites all cultures of the Americas, except that of the United States. The Latin American literary models are European. Which is not enough to even postulate a unity among these diverse countries. This is obvious from a variety of angles, but I will limit myself to a single and decisive one, in my view: surrealism marked Spanish American literatures, something that never happened with Brazilian literature, whose influences were more constructivist, except in one or two important poets, such as Murilo Mendes.
4. As everyone knows, Latin America suffered at the hand of bloody dictators supported by the American government, such as Chile’s Augusto Pinochet, who destabilized the difficult construction of democracy in South America. For all non-North Americans, the postwar period was marked precisely by American interventionism, which, at times, besides politics, promoted unique poetic currents, with well-defined profiles, different from American poetry.
If an American speaks about a “poetry of the Americas” to a Spanish American or a Brazilian, even against their will, they will wonder skeptically if the idea is not at the service, culturally speaking, of the Monroe Doctrine. This should not come as a surprise. There are reasons for this skepticism. As soon as they became independent in 1776, the United States adopted the mechanism of the European colonizer, annexing parts of Mexico and Central America. Such a phenomenon did not happen, unless in limited cases of border disputes, in any other country on the continent. Obviously, such political and cultural inequalities make it quite difficult the dialogue that is forged in between the cracks, by a few poets, without configuring a “poetry of the Americas.”
There is no historical unity between the blocs, other than on mythical grounds. The colonial imprint and later that of economic dependency unites all the cultures of the Americas, except that of the United States.
5. Therefore—I insist—there is no such thing as a poetic identity of the Americas. In Brazil we don’t even use the term “Americas.” The continent seems divided, once and for all, into three blocs: United States and Canada Spanish America (Mexico, the Caribbean, and South America), and Brazil, the only Portuguese-speaking country.
But the three blocs are much more than three. American identities are multiple, and are evidently irreducible to a unity, and, actually with very little experience of egalitarian dialogue among them. Clearly, I continue to contemplate on horizon of possibility the ecumenism of Bernstein’s proposition as a civilized alternative for interaction and for an increase in cultural exchange, but in some way, I consider it historically ill-founded. As the Italian Cesare Pavese (1908-1950) affirmed, a culture that does not entail effort, that is not live work, doesn’t mean anything. Bernstein’s attempt—I imagine—will not be lost.
I say all this without victimizing Brazil or its literature. Brazil is among the 10 largest economies in the world for the last two decades; it represents 47.7% of the South American continent and 20.8% of the Americas. Brazil has produced some of the greatest and most original writers in the world, such as Joaquim de Sousândrade (1833-1902), Augusto dos Anjos (1884-1914), Joaquim Maria Machado de Assis (1939-1908), Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922), Oswald de Andrade (1890-1954), João Guimarães Rosa (1908-1967), Clarice Lispector (1920-1977), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Murilo Mendes (1901-1975), João Cabral de Melo Neto (1920-1999), Raul Bopp (1898-1984), and the Concrete Poetry movement in the 1950s and 60s (Haroldo de Campos, Décio Pignatari and Augusto de Campos), etc. Brazil has formed equally a cultural singularity, which is rich and diverse, and is perhaps only matched by Cuba or the United States.
Because of this, I prefer to say that there are matchless poets in the Americas, but there is no poetry of the Americas. Along those lines, I leave you with a list of poets of the three Americas who have been important to me:
Uruguay: Eduardo Milán, who has lived in Mexico for the last thirty years; Chile: Vicente Huidobro (1893-1948), Gonzalo Millán (1947-2006), a recent discovery, and the younger poets Felipe Cussen and Andrés Ajens; Argentina: Oliverio Girondo (1891-1967) and Jorge Luis Borges (1899-1986), whom I personally met; Peru: César Vallejo (1892-1938) and the contemporary poets Rodolfo Hinostroza and Antonio Cisneros; Cuba: Nicolás Guillén (1902-1989), Mariano Brull (1891-1956) and the contemporary poets Rolando Sánchez Mejías and Pedro Marqués de Armas; Mexico: Octavio Paz (1914-1998); United States: Ezra Pound, e. e. cummings, William Carlos William, George Oppen, John Cage, Robert Creeley (a great interlocutor who opened my eyes to new horizons), Allen Ginsberg, Gregory Corso, Paul Blackburn and the novelist Truman Capote, author of In Cold Blood; one black American musician was crucial for me: Jimi Hendrix; among contemporary poets, Douglas Messerli and Charles Bernstein, with whom I’ve had a long and permanent dialogue, and the literary critic Marjorie Perloff; I also had a dialogue with Michael Palmer; Brazil: Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto, Oswald de Andrade, Mário Faustino (1930-1960), Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos (1929-2003), Torquato Neto (1944-1972) and Paulo Leminski (1944-1989); I had personal contact with Caetano Veloso, towards the end of the 1970s and the beginning of the 1980s which was significant for me; among contemporary poets, I would cite Nelson Ascher (though we have divergent ideologies); and, among the younger poets, I value Josely Vianna Baptista, Luis Dolhnikoff, Sérgio Medeiros, Douglas Diegues and others. I could not leave out the name of the literary critic Alcir Pécora.
PS.
Odile Cisneros points out, rendering both the main thesis of this text and Charles Bernstein’s thesis (in the sense that the topic is not exactly new), that there has historically been dialogue among poets of the Americas. She notes that the Nicaraguan poet Rubén Darío (1867-1916) and the Cuban poet José Martí (1853-1895) read and admired Walt Whitman. The Brazilian poet Mário de Andrade (1893-1945) makes the following remark in the “Prefácio interessantíssimo” of Pauliceia desvairada (1922), the book that launched modern poetry in Brazil: “Have you already read Walt Whitman? Mallarmé?” Cisneros speaks of a Pan-American spirit. The presence of Whitman in Spanish American poetry, she argues, would be a good topic for a book. The Brazilian poet Ronald de Carvalho (1893-1935), she adds, wrote a poetry volume entitled Toda a América (All of America), published in 1926, which was translated into Spanish by Francisco Villaespesa and published in 1935, with repercussion in all of the Spanish-speaking Americas. Octavio Paz influenced poets such as Robert Duncan and Denise Levertov, Cisneros, a professor in Edmonton, concludes. Her point about Ronald de Carvalho’s Toda a América is very relevant. Besides participating in the Brazilian Week of Modern Art in 1922, Ronald de Carvalho was the only Brazilian poet who had contact with the Portuguese modernist poets Fernando Pessoa (1888-1935) and Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), even managing to publish in the review Orpheu (1915), edited by these two poets, veritable giants of all of Portuguese-language poetry. Carvalho was posted to Lisbon as a diplomat in 1914, and returned to Brazil in 1919. I quote an essay by Antonio Donizeti da Cruz entitled “Identity and Alterity in Ronald de Carvalho’s Toda a América: The Link of the Local and the Global”: “America—in the words of Octavio Paz—is the ‘sudden incarnation of a European utopia. The dream becomes reality, a present; a now that is colored with the hue of tomorrow. The presence and the present of America are a future […] Its being, its reality or substance consists of always being a future, a history that does not justify itself in the past, but rather in what is to come […] America was not; it only exists if it is a utopia.’” I quote here the last stanza of Carvalho’s poem “Broadway”: “Epic ground, lyric ground, idealistic ground,/ Broadway’s indifferent ground,/ wide, flat, practical and simple in the air, this/ smooth roof, suspended in the air, this roof, where a/ saxophone pours out a warm stupor of slave quarters’ sun.” For Octavio Paz, the dialogue points in the direction of plurality and the monologue, towards identity, and he concludes: “Poetry was always an attempt at resolving such discord through the exchange of terms: the ‘I’ of the monologue into the ‘you’ of the monologue. Poetry does not say: I am you; it says, my I is you. The poetic image is otherness.” Here’s the link to Antonio Donizete da Cruz’s essay: http://www.ucm.es/info/especulo/numero38/rcarvalh.html.
As yet another discussion of Toda a América, I cite the following link: http:// www6.ufrgs.br/seermigrando/ojs/index.php/NauLiteraria/article/viewFile/5825/3429.
English translation: Odile Cisneros
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[1] Charles Bernstein observes regarding my argument on the U.S. centeredness: “This is true in a general way, but it misses lots of details. Rothenberg/Ethnopoetics (including for example Clayton Eshleman) were committed to influence from outside U.S., both from ‘fourth world’/indigenous in Rothenberg’s case to South American poets/poetry; the culmination being Rothenberg’s Poems of the Millennium; so he’d be a crucial addition to your list, it seems to me and important corrective to Pound’s approach to internationalism. Our small circle at L= in New York were deeply affected by the Russian Futurists, for example (whose work was just emerging in the 70s) and we also were thinking of the connection of various European avant-gardes, specifically to move outside of the insular U.S. centered traditions (Duchamp, Dada, Surrealism, Concrete and Visual Poetry, French poetry). And there has been throughout the history of radical poetics of the U.S. a deep exchange with French poetry and between poets. Of course you are leaving out the relation of U.S. poetry to British poetry. It’s fair to say at least in the 70s and 80s the North-South connection was far less significant (though of course that has radically shifted in the last decade or two) for those around L=. But also any number of specific poets in the 20th century there would be connections/influences outside the U.S., though the centripital force of U.S.-centeredness is very powerful as has been the ideology of putting out foreign influences”.
[2] Norman Davies, Europa na Guerra (1939-1944), Editora Record, Rio de Janeiro, 2009.
Palestra a ser feita em Poet’s House em Nova Iorque em 14/ de outubro 2009, seguida de leitura de poemas de RB/Lecture to be done at Poet’s House NY on October 14th, followed by a reading by Régis Bonvicino
Régis Bonvicino at Penn: University of Pensilvania, Philadelfia
Tuesday, 10/13
A reading by the Brazilian poet
6:00 p.m. in the Arts Cafe
Introduced by Charles Bernstein