ENTREVISTA DE ROBERT CREELEY A JOÃO ALMINO E RÉGIS BONVICINO EM 1995
João Almino e Régis Bonvicino: Você acredita em linhas evolutivas na arte?
Robert Creeley: Não finalmente.Talvez isso seja um eco útil do que ouvi de ” To Juan at the Winter Solstice”( De Juan no Solstício de Inverno),de Robert Graves : “Existe uma estória e somente uma que vale a pena contar…” .Nós não vamos a lugar nenhum que eu veja como “verdade”.O que posso dizer? “Não há ninguém aqui exceto nós as galinhas” ( “There’s nobody here but us chickens” ).Para mim,o ritmo tem sido o da invenção,para definir,para melhorar,para inventar — tudo para manter vivo o campo básico da emoção e o mundo que nos cerca.
JA e RB: O que é progresso para você ?
RC: Os modos mudam e, de uma certa maneira, os contéudos transmitidos assim também mudam.Mas ir à lua, por exemplo, foi apenas a viagem imaginária de Jules Verne, ou seja, para as pessoas uma viagem à lua só acontece em suas mentes.Mas quem sabe de fato o que está acontecendo ou quem se importa com isso?
JA e RB: Embora a experiência pessoal, questões de existência, percepções sejam fundamentais para você e para Allen Ginsberg, seu par de geração,sua poesia é muito diferente da dele.Você pode falar sobre isso? Como você se sente ao ser apontado,por alguns,como “minimalista” ?
RC: Sim, nossas prosódias, ou o que quer que seja, parecem ser diferentes.Embora nossos termos emocionais sejam bastante iguais.Nós dois pensamos que emoções são os fatores decisivos numa vida humana.Allen disse uma vez a mim que o Índice Dow Jones aqui,nos EUA,era o index “romântico” de nosso País,isto é,o índice informava às pessoas como a “fé” delas estava indo.Ele investigou Sylvia Porter,uma colunista financeira,por exemplo. Nós dois pensamos que “Primeiro pensamento melhor pensamento” ( “First thought better thought” ),como ele formulou,a partir de um princípio budista.Ele anota que nós nos encontramos pela primeira vez em 1949 mas nós realmente nos conhecemos de modo íntimo no começo dos anos 50 em San Francisco.Pensando em “minimalista” — se vocês querem dizer “minimalista” como Wittgenstein ou como o músico Anton Webern então obrigado! Eu sempre amei uma observação dura e seca de Wallace Stevens : “Existem aqueles que pensam a forma como se ela fosse um derivativo de moldes plásticos ( no sentido físico )….”Ou usam as palavras para obter este efeito.
JA e RB: Quais foram os momentos decisivos de sua vida e ou de sua carreira?
RC: Eu nunca tive uma “carreira” e agora é tarde demais para pensar numa. O que eu deveria fazer em minha vida? Só Deus sabe! Minha vida tem sido muito boa apesar da Segunda Guerra Mundial e de repentinas mortes violentas daqueles que são próximos de mim,de modo pouco comum.Eu tive uma sorte extraordinária — tudo “veio” sem esforço muito significativo de minha parte.Eu não tinha,certamente, intenção de ou mesmo imaginação para ser um poeta.Eu simplesmente — apararentemente — era um.E tudo foi, como Williams diria, divertido — e ser considerado como como um poeta de valor, fazendo alguma coisa bem simples e muito prazerosa, é maravilhoso para mim,na verdade.
JA e RB: Pode o capacidade de mudar a si mesmo ou seu rumo definir a personalidade de um poeta?
RC: Eu acredito realmente,com Charles Olson,que “As pessoas não mudam. Elas apenas, com o tempo,ficam mais reveladas…”. Em algum outro lugar, ele (Olson) disse: “Oh mudemos todos juntos…”. Se uma pessoa está pensando em parar de beber ou de se drogar a mudança tem um sentido real,do contrário isto parece muito superficial. De novo Olson como eu o cito ou o distorço. “Personalidade”, do lugar de onde eu vim, era pensada para ser um adorno necessário para um político — um cosmético de Dale Carnegie.
Tradução : Régis Bonvicino